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Jornal de Letras, Novembro 2017

27.12.17

ABAIXO, TEXTO DISPONÍVEL PARA LEITURA. 

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'O caminho também é um lugar'

 Manuel Halpern 

 

Cinco anos depois de Dentro do Segredo, o seu livro dedicado à Coreia do Norte, o escritor volta à ‘literatura de viagens’ com O Caminho Imperfeito. Histórias de uma outra Ásia – a Tailândia, igualmente recôndita -, de um submundo pernicioso e cru. Mas também uma viagem ao mundo interior do próprio escritor, com uma forte componente autorreflexiva e autobiográfica. O JL entrevista o autor, publica a crítica de Miguel Real àquele último livro e quatro poemas inéditos de quem também na poesia se distingue mas nos últimos anos não a tem dado a lume.

 

 

Chegou da Coreia do Norte e está de partida para a Finlândia. “E se mais mundo houvera lá chegara”, o verso d’Os Lusíadas que bem se aplica a José Luís Peixoto, escritor andarilho que desbrava o que resta dos mundos ocultos nesta sociedade global, que estreitou os caminhos da Terra. Em 2012, lançara Dentro do Segredo, um olhar sobre a Coreia do Norte, o mais obscuro dos regimes. Agora escreve sobre a Tailândia, em O Caminho Imperfeito, o seu segundo livro de ‘viagens’. Mas claro que não é uma Tailândia de postal, para estrangeiro ver, mas um mundo feito de submundos recônditos crus e chocantes. Mais do que isso, neste livro em que a realidade por vezes ultrapassa ficção, há uma viagem interior, introspetiva, testamentária, que cria elos com toda a sua obra.

Nascido em Galveias, em 1974, José Luís Peixoto é um dos mais internacionais escritores portugueses contemporâneos, livros seus estão editados em mais de vinte idiomas. Entre outras distinções, recebeu em 2001 o Prémio José Saramago pelo seu romance de estreia, Nenhum Olhar, e, já este ano, o prémio Oceanos, por Galveias. Dividindo-se entre ficção, poesia e literatura de viagens, iniciou a sua carreira em 2000, com Morreste-me, seguiram-se títulos como A Criança em Ruínas (2001, poesia), Uma Casa na Escuridão (2002), Cemitério de Pianos (2006) e Livro (2010).

 

JL: O livro começa com uma descrição algo chocante. Mas talvez o que que haja de mais chocante neste livro é estar catalogado como não ficção...

José Luís Peixoto: A Tailândia é um lugar de contrastes. Todas aquelas coisas são reais e aconteceram assim. Claro que depois há uma gestão da narrativa. O livro a partir de certa altura torna-se tão diferente, que rejeita a catalogação mais fácil.

 

Teve muitos anos uma crónica no JL intitulada ‘Verdades quase Verdadeiras’. Foi um caminho que sempre o interessou? A realidade como manancial de histórias ou aqueles momentos em que a realidade ultrapassa a ficção?

 A certo momento, o livro coloca o tema da autobiografia versus ficção. Reflete sobre a eterna questão de quanto tudo é ficcional e ao mesmo tempo autobiográfico. Em alguns momentos, deu-me prazer exercitar uma certa ironia através de factos absolutos, às vezes até estatísticos, que são muito eloquentes. Quando estamos a fazer o retrato de uma realidade exótica tudo acaba por ser muito diferente do que estamos à espera. Mas o livro também se movimenta nessa dualidade do longe e do perto. Por um lado, tem essa distância cultural e de perspetiva do mundo, diferente da nossa, mas por outro lado tem momentos de grande proximidade, de retrato íntimo, autobiográfico e pessoal. O confronto entre os dois acaba por ser a concretização dos polos desse caminho.

 

Descobrem-se várias camadas, o livro são muitas coisas ao mesmo tempo. No cinema muitas vezes fazem se ficções com técnicas de documentário. Aqui faz o inverso? Isto é um ‘documentário’ transformado em ficção? Usa ferramentas da ficção para falar da realidade?

Independentemente do caráter ficcional ou não de um texto, tem de ser considerada a sua eficácia narrativa. Nesse aspecto, fiz um exercício que requer um equilíbrio de vários aspetos. O livro é um caminho. Começa num ponto e termina noutro inesperado à partida. Acho isso interessante. Todos os livros propõem um caminho. Neste caso procurei que a existência desse percurso fosse muito clara. É uma narrativa feita de muitas narrativas.

 

É levada ao extremo a ideia de que quando se faz uma viagem não conta apenas o lugar para onde se vai, mas sobretudo como tal nos afeta interiormente. Tudo alimenta a viagem. É por isso que não há a mesma Tailândia para todos?

Sob o ponto de vista da descrição da Tailândia, o livro é uma hipótese. Tentei ultrapassar o estereótipo, muito forte e alimentado pela indústria do turismo. Mas eu quis ir a outros lados e colocar lá toda a minha subjetividade. O meu olhar não é neutro, nem objetivo. Nenhum olhar o é. Este livro tem muito de pessoal. Ao escrevê-lo foi o que mais me seduziu. A crónica da Tailândia foi, de início, o que me levantava mais desafios por ser um país tão diverso, que me deixava assoberbado a olhar para tudo aquilo, mas a partir de certa altura se foi organizando.  A forma como a Tailândia me marcou, com todas as suas capacidades simbólicas, foi, porém, o que transformou este livro em algo extremamente importante para mim e com um lugar muito particular em relação a outros livros que escrevi.

 

O livro sobre a Coreia do Norte, Dentro do Segredo, relata uma viagem num estilo muito diferente.

Sim, mas com esses pontos todos de contacto, na medida que também me transformou. Há uma visão sobre o lugar não objetiva. É um encontro com o outro, com todas as interrogações que trás. Classificar este livro como não ficção cria uma responsabilidade acrescida, porque se estabelece uma ligação com a escrita jornalística, com uma certa objetividade. Torna obrigatório retratar um espaço que existe e ser-lhe fiel. Isso para mim é muito complicado. Aquilo que encontro ali, apesar de ser objetivo e verdadeiro para mim, pode não o ser para outra pessoa.

 

Quanto tempo esteve na Tailândia?

Estive cinco vezes. Períodos de três e de duas semanas. A primeira foi depois de ter estado no Festival Literário de Macau. Contava ir à China, a Hong Kong, mas aconselharam-me a ir à Tailândia. Desde aí que tenho ido todos os anos. É uma cultura fascinante a vários níveis, quer do ponto de vista histórico, quer do seu quotidiano.

 

É um livro que permite que falemos sobre tudo, como se neste caminho coubesse o mundo inteiro. Um livro que coloca grandes questões universais...

Qualquer livro faz perguntas. A partir de certa altura colocam-se-me duas questões de forma muito direta: porque escrevo e porque viajo. São duas formas de perguntar ‘para que vivo’. Pois estes são dois símbolos muito claros da minha vida. Viajar, sob o ponto de vista mais físico, e escrever, do lado da reflexão, do pensamento. Mas são duas dimensões da mesma existência. Essas perguntas estão por baixo de todas as perguntas. No fundo, o livro vai dando várias hipóteses de resposta, ligadas a temas já trabalhados em livros meus, como as questões da família, o que leva o livro nessa direcção autobiográfica. Há um momento no livro em que eu faço um balanço da minha vida e penso como seria se morresse agora. Para mim essa reflexão foi o resultado lógico das perguntas que fiz. Apesar de haver reflexões quase absolutas, aplicáveis em outras circunstâncias, o livro nunca abdica das suas referências concretas. Tal como quando o livro falada Tailândia, parte daquelas ideias poderiam ser aplicadas noutras realidades nos seus princípios. Quando o livro fala sobre mim pode também ser aplicado a outras pessoas que o estejam a ler. Sem prejuízo de pretender ser simbólico e universa l pela própria natureza da literatura essa é a sua última vontade -, o livro é bastante particular, nele falo de forma muito concreta dos meus filhos, da minha família.

 

Chega ao ponto de fazer um testamento.

Quando se está a escrever o primeiro compromisso é com o texto. Mas não se podem deixar de considerar múltiplas circunstâncias em que ele possa ser lido. Fiquei a pensar que aquele texto poderia ser lido depois de eu morrer. É sempre uma situação sensível. Mas também acho que todos os textos devem ser escritos como um testamento. São a cristalização de um tempo que nos ultrapassa. A morte é uma grande fronteira. Marca uma grande diferença sobre a perspectiva da pessoa. Os textos são sempre escritos num passado e presentes num tempo que não é sempre exatamente o seu.

Embora aspirem a ultrapassar o tempo, todos os textos são datados, porque a sua verdade é sempre a do seu tempo. Claro que a riqueza do texto pode permitir múltiplas leituras que o façam sempre atual, mas o tempo em que ele foi escrito nunca é dado irrelevante. Existe sempre um compromisso com a História, do ponto de vista do tempo, e com a Cultura, do ponto de vista do espaço. O espaço em que um livro é escrito nunca é irrelevante, mesmo que possa fazer sentido em todo o mundo e em todas as épocas.

 

De alguma forma começou a escrever por causa do seu pai em Morreste-me. Aqui revela que começou a viajar também por causa dele. Há uma espécie de fechar de círculo?

Sinto que esse tema não se fecha. Mais do que ser um círculo é uma espiral. Esse é o grande tema da minha obra. Não sei se algum dia conseguirei sair daí da questão da filiação. Começa por ser a questão do pai, mas também é a questão dos filhos. No fundo são dois lados da mesma coisa. É uma questão que encerra muitas outras, como a do tempo. Não é por acaso que afiliação é um eixo narrativo de várias religiões, até do ponto de vista civilizacional, e nos organiza o pensamento. Sinto uma tendência para tratar esse tema e, em vez de contrariá-la, abraço-a, desde sempre.

 

Na sua obra, coloca os romances e a não ficção ao mesmo nível?

Há sempre uma pressão grande para escrever romances e um preconceito em relação ao resto. Como se por não ser um romance, o livro fosse menor. Cada género tem os seus desafios e a sua importância. Gosto de diversificar, de procurar e experimentar. As lições que aprendi a escrever romances são amplamente utilizadas aqui. Do ponto de vista da construção narrativa, as diferenças entre este livro e um romance são poucas.

 

Na badana da contracapa a sua obra aparece dividida apenas entre prosa e poesia...

Quando olho para um novo projeto, não consigo ignorar o que já fiz. Mesmo que isso aconteça encontro sempre ligações. Tenho a ambição que cada livro acrescente um novo ramo, mas não ignoro o tronco. Este livro relaciona-se com outros livros meus, como o Dentro do Segredo, as crónicas, o Morreste-me, o Cemitério de Pianos (até na estrutura)... Até com os livros mais ligados ao Alentejo, como o Galveias e o Nenhum Olhar. A dimensão autobiográfica está presente em todos. Este, O Caminho Imperfeito, em certa medida é o livro da adolescência, do rock’n’roll, das tatuagens, de uma cultura popular, mas às vezes transgressora.

 

Fala de coisas sérias, mas não é muito pesado.

Tentei que fosse, sob o ponto de vista da prosa, um livro fluido, de frases simples, para uma leitura ligeira. O humor é um aspeto que ameniza muito.  Embora seja temperado com outros elementos.

 

Viaja muito devido à vida de escritor, mas ainda assim acrescenta outras viagens. Porquê?

Há uma passagem do livro em que eu digo que era sempre o último a sair das festas. Desde sempre tenho grande ansiedade por viver. Raramente recuso convites, propostas, desafios. A minha ambição é sempre experimentar mais, ver, saber, sentir, tomar o gosto a tudo. Viajar para algumas pessoas é um objetivo de vida. Também há o momento que se diz no livro em que quem não viaja está a viver alguma coisa que quem viaja ignora. O livro faz essa apologia da viagem, embora lhe reconheça alguns lados menos positivos.

 

Diz que o caminho é um sítio. Sente-se em casa quando entra no avião?

O livro faz a apologia de viajar de avião, o que não é muito comum nos livros de viagem. Porque é tido como algo artificial, que não é verdadeiramente sentido. Há algum tempo que comecei a olhar para esses não lugares. Quando se tomam muito presentes ganham características que normalmente quem está de passagem não reconhece.

 

Escreve em qualquer lado?

Escrevi este livro em muitos espaços e circunstâncias. A escrita tem diversos estágios. Alguns são mais adequados para desenvolver em movimento. Contudo, para mim, a circunstância ideal para escrever é em casa. Mas escrevo em muitos lugares. Às vezes, a escrita pode ser uma âncora de estabilidade num meio em permanente alteração.

 

Há algum sítio onde ainda queira ir e escrever?

Há vários sítios que trazem grandes questões. Tenho viajado para a Ásia. É um continente fascinante. Quando se regressa da China é impressionante ver as paisagens imensas da Mongólia, do Azerbaijão, Cazaquistão... Espero ter a oportunidade de escrever mais livros com focos noutros pontos.

 

Se abrisse um concurso para escritores irem à Lua inscrevia-se?

Seguramente. De resto, o olhar com que se vai para qualquer lugar tem que ser semelhante ao de com que se iria para a Lua. Porque se nos convencemos que os nossos preconceitos são o suficiente, não vale a pena a viagem.

 

 

  

Viagem Iniciática

Miguel Real

 

José Luís Peixoto (JLP) atingiu a idade da meia-vida e, em registo de “não-ficção” (texto da contracapa), perfez uma viagem ao fundo da sua existência, sumariada no seu último livro, O Caminho Imperfeito. Note-se que o título não indica “um” (indeterminado), mas “o” caminho, bem definido, o “seu” caminho. Ainda que profana, trata-se de uma viagem verdadeiramente iniciática já eu tem como objetivo atingir o autoconhecimento e determinar os tentáculos existenciais que têm ligado a sua vida aos outros e ao mundo. Não se trata de ma viagem de prazer, ou uma viagem turística, ou uma viagem encomendada para uma repostagem, mas uma viagem ao fimou ao fundo de si próprio e, por via do caminho percorrido, desenvolver e atingir um autoconhecimento sintético e iluminante sobre a sua vida.

 

É neste sentido que, neste seu novo livro, a viagem, mesmo profana, é iniciática, busca fins de conhecimento, não materiais, não históricos, mas, seguindo a antiquíssima divisa de Sócrates, de busca de si mesmo. Porém, como Sócrates, o resultado atingido e o caminho percorrido como conteúdo concreto da viagem não comprazeram totalmente o autor/ narrador (ver diferença apontada no livro, pp. 100-101): gostou e não gostou da viagem.

 

Gostou porque descobriu a razão porque é escritor (p. 114) e porque viaja (p. 115) – não revelamos os porquês para não furtar o prazer da descoberta ao leitor; gostou porque cimentou laços familiares (por exemplo p. 103, o casamento em Las Vegas, p. 108, a ida da família toda a esta cidade, pp. 119-120) e a amizade com Makarov, o companheiro de uma das viagens, antifo amigo das tatuagens no Bairro Alto e ilustrador do livro; gostou porque face a duas cidades, a mais profana e materialista do mundo, Las Vegas/ EUA, e uma das mais religiosas e/ ou espiritualistas, Banguecoque/ Tailândia, defrontou-se consigo próprio, com os seus limites cívicos e mentais; gostou porque detectou fios inconsúteis  de ligação entre a infância e a adolescência numa aldeia  do Alentejo, o filho mais novo de um carpinteiro, e o adulto escritor e viajante, não uma vida artificial, mas uma vida genuína, no passado e no presente. Gostou, enfim, porque encontrou o fio ontológico de ligação da totalidade da sua existência, percebeu que não viveu inutilmente, e que o que tem feito (escrever, viajar) continuará a ser doravante o fulcro da sua vida.

 

Não gostou porque constatou ser “imperfeito” o caminho: “Quanto mais tento conhecer-me, mais percebo o quanto falta para me conhecer. Quanto mais ilumino, mais consciência tenho das enormes distâncias que falta iluminar” (p. 110); não gostou porque constatou que não é sujeito da sua existência: todo o artigo número 27, demasiado longo para aqui transcrever; não gostou, porque percebeu que o caminho é o lugar da imperfeição e a viagem, por maior, é sempre inconclusa: “Não sou o meu corpo, não sou o meu nome, não sou o que tenho, não sou estas palavras, não sou o que dizem que sou, não sou o que penso que sou” (p. 184). Não gostou porque percebeu que muito do que é como escritor lhe é exterior, que é apenas um elo do “caminho”: “Sou um caminho. Sou alguma coisa que vem de antes, que me foi entregue pelo meu pai. Também ele a recebeu. (...) Sou alguma coisa que continuará depois de mim, que entrego aos meus filhos” (p. 185). E, mais radical, na p. 152, a propósito da decisão impulsiva de partir para as duas cidades: “Será que alguém decide alguma coisa?”

 

A coesão do texto narrativo é dada pela história macabra de alguém que envia pelo correio de Banguecoque para Las Vegas várias caixas contendo a cabeça de um bebé, o pé direito de uma criança cortado em três partes, pedaços de pele tatuada e um coração humano. Narrada na primeira página, ela surge a espaços no texto, acrescentando nova informação, até finalizar a última página do livro. O leitor desconhece se, inserida num texto de certo modo confessional, a história é verdadeira. Porque alimentado pela “não-ficção”, pressupõe-se ter sido verdadeira.

 

Balanço final da viagem: “As palavras são espelhos imperfeitos. Escrever, mesmo com todas as insuficiências, é o que sie fazer para descobrir quem sou” (p. 113), e, interpretado o passado e o presente, conclui o autor/ narrador: “O velho que imagino que serei é o velho que gostaria de ser” (p. 147), ainda que a criança imaginada não tenha sido a criança real, a que foi mesmo, mas aquela é a única criança pensável pela memória e, portanto, a outra, a verdadeira, não existe.

 

De recordar ao autor.narrador o belíssimo final de Viagem a Portugal, de José Saramago: “A viagem não cana nunca. Só os viajantes acabam. E mesmos estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. (...) É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” No caso de JLP, traçar até ao final da sua vida, que desejamos longa, novo “caminho imperfeito”. 

 

Única falha: José Luís Peixoto atravessou o rio Mekong e não se lembrou  que foi aí que Luís de Camões naufragou.

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Estado de S. Paulo, Agosto 2017

02.09.17

Livro de José Luís Peixoto evoca a poesia que vem do inconsciente

 

Escritor português lança no Brasil 'A Criança em Ruínas', pela editora Dublinense

 

José Castello*, Colaboração para o Estado

 

Há mais de meio século, Vinicius de Moraes já nos alertava que a poesia não está nas palavras, mas na vida. Na era das mentes turbinadas e do culto à adrenalina, nada melhor do que retornar à lentidão das pequenas coisas e a, partir delas – muito além dos livros –, procurar a poesia. Parece simples, talvez redutor, e até ingênuo, mas não é fácil. Os que preferem ver a poesia como artifício e jogo, como uma tarefa de especialistas, na verdade se esquivam do assombro que ela desvela. Evitam, assim, o que eles mesmos dizem cultuar.

 

Temas antigos, mas sempre futuristas, como o amor, a liberdade e a morte, persistem nos livros de poesia que realmente importam. Agora mesmo leio A Criança em Ruínas, do português José Luís Peixoto. Nele encontro, mais uma vez, uma poesia que não se contenta com a exibição intelectual. Que deseja ultrapassá-la, cavar fundo sob o manto de letras, para chegar aos fundamentos de sua própria voz. Em tempos tão fúteis, este parece ser um trabalho sem sentido. Buscar sentido – isso hoje não faz mais sentido; interessa apenas produzir efeitos. De modo que os poetas parecem seres em fuga, quando é bem ao contrário: se você olhar a paisagem na direção correta, verá o quanto, na verdade, eles nos ultrapassam.

 

Poetas como Peixoto escrevem com a consciência de que, a cada palavra, têm menos nas mãos. “Sou um erro propositado e sou erro/ maior por isso”, ele nos diz. A cada verso escrito, é todo um mundo que fica para trás. A questão, portanto, não é deter-se nas palavras, não é “enfeitá-las” com o recurso do artifício ou da novidade: mas perfurá-las para examinar o que detrás delas se esconde. Aqui o verdadeiro poeta se arruína: ao escrever, ele destrói aquilo mesmo que escreve. “Sou a erosão de mim próprio”, diz Peixoto, ciente de que escrever, muito mais do que um exercício de inteligência ou de mestria, é perder-se de vista. Ao escrever, o poeta se exclui, deixando as palavras como restos de seu esforço.

 

Não devemos – como fazem os novos poetas esnobes, com seus óculos da moda e sua mente intoxicada de citações – nos deter na fulguração da letra. O esnobismo é isso: afetação, busca da superioridade, e também um desejo escondido de vingança contra aqueles que apenas fazem. “A letra p não é a primeira letra da palavra poema”, nos alerta Peixoto em sua Arte Poética. “O poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma.” Algumas linhas à frente, ele esclarece ainda melhor: “O poema é quando eu não conhecia a palavra poema.” Anterior à própria letra, o poema é a ruína do poeta.

 

Mas aceitar isso – que a poesia se antecipa ao poema – é aceitar, ao mesmo tempo, a presença de elementos fugidios e não domesticáveis, como a intuição, o recolhimento e o silêncio. Admitir que o poema só se faz porque existe alguma coisa antes dele que o sustenta e o engendra. Os poemas “não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são/ bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema”. E esclarece, em versos ainda mais escandalosos: “não é a/ raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos/ conhecer o que possuímos e não possuímos nada.”

 

Aceitar, portanto, não só a limitação atroz que nos constitui, mas a corrosão persistente que compõe a vida. Aceitar que quanto mais falamos – quanto mais escrevemos – menos nós sabemos. E, no entanto, é nessa perseguição do sentido, além, muito além da rede de palavras, que a poesia reside. Os esnobes, com suas teses espantosas e seus muxoxos, pouco sabem da poesia. Lembro aqui de uma observação nada consoladora de Clarice Lispector: “Mas é que o erro das pessoas inteligentes é tão mais grave: elas têm os argumentos que provam.” Ao escrever, nos mostra Peixoto, em vez de elucidar, o poeta devasta: “entre as palavras da minha voz, as minhas palavras, renasce/ um silêncio.”

 

Aqui, a própria letra se torna corrosiva e mortal. “A palavra poema existe para não ser escrita como eu existo/ para não ser escrito.” Afirma, assim, a primazia da vida sobre o poema. Para poetas como ele, a poesia sempre escapa; por mais que se escreva, está sempre em outro lugar. É como ele diz sobre o amor, em outro belo poema: “o amor é saber/ que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.” A poesia também. E por isso, toda assinatura, toda vaidade, não passam de uma fraude.

 

*José Castello é jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e escritor. Autor de 'Ribamar' (Bertrand Brasil) e 'A Literatura na Poltrona' (Record), entre outros

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 Capa do livro 'A Criança em Ruínas', de José Luís Peixoto

A Criança em Ruínas

Autor: José Luís Peixoto

Editora: Dublinense

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Hoy Día (Córdoba, Argentina),

01.09.17

Fátima

Por Miguel Koleff

 

Entender a los otros no es una tarea que comienza en los otros. El inicio siempre somos nosotros mismos (J.L. Peixoto)

 

No en vano José Luis Peixoto escoge un fragmento de Alan Badiou como epígrafe para iniciar su relato sobre un hecho antiquísimo de la historia religiosa de Portugal que se condensa en la aparición de la Virgen a tres niños pastores de la aldea de Aljutrel y que –para bien o para mal- ha nutrido por años el imaginario cultural de ese país. La cita en cuestión –“nada puede atestiguar que lo real es real, salvo el sistema de ficción en el cual representará el papel de real”- pone en un justo lugar el papel interpretativo que le cabe a la novela respecto de ese fenómeno desde que define la secuencia de hechos dentro de un paradigma de lectura que no lo impugna de antemano y que casi bordea la versión oficial de los acontecimientos proferida por la Hermana Lúcia, su única sobreviviente.

Hay un juego de decir y no decir que está implícito en Em teu ventre (En tu vientre) y que revela (de algún modo) la interdicción que pesa sobre este discurso desde que Oliveira Salazar, el dictador responsable de los 40 años de aprobio del pueblo portugués, se asumiera como un “fatimista” confeso e hiciera valer su poder fáctico como marca registrada de gestión. De allí el silenciamiento a este respecto que trajo aparejada la democracia reconstituida después de los 70 salvo una u otra mención, como la de José Saramago en El año de la muerte de Ricardo Reis (1984), en la que destaca el comercio eclesiástico con los exvotos. Fátima interpela más por el silencio creado a su alrededor que por la fe convicta a la que convoca dentro de la propia nación. Al mismo Peixoto no le sorprendió (aún en 2015) que el público se mantuviera apático durante el lanzamiento del libro ya que a pesar de que todos conocían la historia y algo tenían para aportarle, nadie osaba pronunciar una palabra a favor o en contra.

Un elemento importante para entender tantos tapujos es que, de todos los registros extrasensoriales que ha relevado la iglesia católica como parte de sus misterios numinosos, el de 1917 tiene, además de un viés místico, una connotación política difícil de encuadrar. En términos esotéricos, Fátima da cuenta, no sólo de las dos guerras mundiales sino también de la caída del muro de Berlín y el final de la Unión Soviética, por lo que puede ser analizado como símbolo paradigmático del siglo XX. Lo más discutible radica en la lógica capciosa que teje entre un comunismo demonizador y un capitalismo salvífico para enfatizar la presencia divina como intervención misericordiosa. El secreto de julio, como se le dado en llamar, es claro a este respecto: “Si atienden a mis deseos, Rusia se convertirá y habrá paz, sino ella esparcirá sus errores por el mundo, promoviendo guerras y persecuciones contra la Iglesia” (sic). En este punto yace la laguna interpretativa  de las apariciones, sobre la que la testigo ocular, con su confusión de términos escatológicos, empantana en lugar de esclarecer. Desentrañando esa cita, podríamos convenir en señalar los horrores del estalinismo a partir de los años 20 ahora que los conocemos  pero no dejaríamos de asombrarnos de una globalización injusta, desigual y violenta como la que sobrevino después. ¿Es ese el reinado de la paz prometido por la virgen, acaso, cuando el 13 de mayo se lo aseguraba a los pastores? 

Son muchas las razones para desconfiar del único testimonio que pone en marcha el derrotero de Fátima como institución y monumento, al decir de Foucault. Pero su emergencia, su disponibilidad heurística hace que siga en pie y que no se instale una sospecha completa sobre su significado. Finalmente, el “aparecer político” (si le creemos a Didi-Huberman) es “una aparición de diferencias” que se podría mensurar de otra manera si se hiciera por fuera de la iglesia y recabando el archivo todavía asequible. Una revisión de los contenidos de percepción a la luz de la categoría “montaje” y en plena era de la reproductibilidad técnica, no sería nada desdeñable por ejemplo. 

La novela se escalona en seis capítulos que coinciden con los seis encuentros de 1917 manteniendo el recorrido cronológico con fidelidad, esto es, desde el mes de mayo al mes de octubre en el que se manifiesta el milagro que le dio popularidad, el del sol girando sobre su eje. Asume a Lúcia como personaje principal, como no podría ser de otra manera,  ya que es la única que ve, escucha y dialoga con la virgen (Jacinta puede oírla y Francisco sólo verla) pero en lugar de encarar la relación rostro a rostro, la elección escritural de Peixoto se vuelve sobre el horizonte familiar que rodea al personaje y ancla en el vínculo  con la madre -auténtica antagonista de los episodios- que no le cree una palabra y que la acusa de mentirosa. Este corrimiento de la acción externa hacia un interior fecundo,  potencia el carácter reflexivo y poético de la trama y redimensiona los motivos que la inspiran. Precisamente el eje de la relación entre rostro y máscara (para usar los términos de Badiou, antes citado) se escande del plano institucional para anidar en el de la esfera íntima como un ajuste de cuentas entre fidelidad e infamia que alcanza su paroxismo en el mes de octubre cuando María Rosa teme por la vida de los suyos (“Si el milagro anunciado no se produce, van a matarnos”, 155). Queda claro que Peixoto escoge el “más acá” como lugar de su ficción y se distancia de la mistificación popular que hizo crecer al relato como devocionario exclusivo del catolicismo conservador. Al hacerlo, repone a Fátima en un lugar más universal y le devuelve la fe al enigma que encierra.

Podemos afirmar entonces que, en sentido estricto, el acto de las apariciones no está narrativizado, con lo cual el soporte de la creencia se mantiene en suspenso sin ninguna calificación. A fin de no falsear perspectivas, arriesgando un punto de vista intelectual o tomando una posición esclarecida, el joven escritor va más allá de la representación icónica y la reemplaza por versículos bíblicos que disemina a lo largo de la narrativa. No son extractos fidedignos de las Escrituras sino valoraciones parciales de lo que –entiende- es el mensaje transmitido. Consigue así evitar estereotipos y contribuir  al remozamiento de una tradición vernácula desde un ángulo literario.

 

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Lombada Quadrada, agosto 2017

01.09.17

A literatura e o segredo de Fátima

Por Carlos Carvalho

 

Sujeito corajoso e ousado o José Luís Peixoto. O escritor português se lançou no arriscado terreno da fé ao construir em Em teu ventre uma narrativa ficcional baseada nas aparições de Fátima, que completaram 100 anos neste 2017. Coragem por tratar de um tema tão delicado, a fé, sem louvações gratuitas, com o perdão do trocadilho. E ousado por abordar o tema desprovido da paixão religiosa, com distanciamento que se pode afirmar agnóstico, buscando encontrar o que de mais humano poderia haver na história de Lúcia e seus primos Jacinta e Francisco, que foram as três criaturas “agraciadas” com as aparições que mudaram a vida da pequena aldeia de Fátima, entre maio e outubro de 1917. Mudaram radicalmente uma vila e obrigaram as crianças a crescer sob a aura da santidade, recolhidas em conventos a salvo da sanha dos fanáticos.

O romance de Peixoto, que chegou ao Brasil em edição da Companhia das Letras, é narrado por uma sobreposição de vozes. Começa de forma genial emulando o formato das narrações bíblicas, com capítulos e versículos numerados. Este formato representa a voz de deus, que revela de uma certa forma as dúvidas do criador em relação ao produto de seu trabalho de 6 dias. A mãe do narrador também se faz presente ao longo do livro. Em textos curtos, entre parêntesis, fala com seu filho, expondo suas angústias de mãe e zelando para o que filho-narrador siga com a história das crianças e de sua aldeia até o fim. E temos a narrativa propriamente dos intervalos entre uma aparição e outra, sempre acontecidas nos dias 13 de maio a setembro daquele ano, que ficam rondando a relação de Lúcia, a mais velha das crianças, com sua mãe, Maria. Também é um livro sobre a concepção. Deus, que concebeu o mundo. A mãe do escritor, que nos deu um autor de talento. E a mãe de Lúcia, que observa aflita a vida de sua filha mais nova ser sacudida por um terremoto de enormes proporções.

Não sabemos como foram as aparições, não sabemos quais foram as palavras de nossa senhora, não sabemos o que revelou ao mundo através dos pastorinhos. Isso está escrito nos livros oficiais e nos relatos das crianças e, sabiamente, não aparece no livro. O que sabemos nessa construção ficcional habilmente arquitetada é o que se passou no seio da família de Lúcia e no seu entorno. Maria, a mãe da menina, com a certeza de que a filha mentia e carregava consigo os primos mais novos em uma espécie de delírio que, nas palavras da mãe, “só podia ser coisa do demônio”. O alheamento do pai e a ira dos padres, com o latente medo de perderem, eles, a primazia da conversa com o divino. E a gradativa chegada de fiéis, atraídos pelo boca a boca que vai alastrando a notícia de que a virgem apareceu a três inocentes criaturas sob a sombra raquítica de uma azinheira. Depois da primeira aparição, as seguintes tem dia marcado. Nada mais conveniente. E, a cada mês, milhares e milhares de pessoas vão chegando e destruindo as plantações do pai de Lúcia em torno da árvore a fim de encontrar um lugar privilegiado para assistir às aparições. São camponeses, burgueses de outras cidades maiores, todos a chegar com os mais variados pedidos para a santa.

A peregrinação traz também a figura que ficaria para a história como Maria da Capelinha, uma entre tantas marias daquelas paragens, que consegue convencer Lúcia de que a santa pediu que se erigisse uma capela em sua homenagem. Estava lançada a pedra fundamental do gigantesco complexo que tomaria conta do modesto sítio daquela família.

Em um romance repleto de entrelinhas, Peixoto mostra uma menina de 10 anos com pendores filosóficos a conversar com insetos, árvores, cachorros, folhas, como quando diz a estas que está cansada, neste lindo diálogo sobre o segredo, que viria a ser a chaga que acompanharia esta futura freira por toda a vida, o tal do Segredo de Fátima :

Estou tão cansada, folha.

“Estamos todos.

Acho que estou mais cansada do que todos.

Aqueles que estão mesmo cansados acham sempre isso. Se eu te contar um segredo, prometes guarda-lo?

Posso tentar, mas não depende só da minha vontade.

Como assim?

Os segredos passam por qualquer fresta, são mais fluidos do que a água, mais informes do que o ar. Podemos fazer tudo para guardar um segredo, mas ele acaba por encontrar caminho para se esvair.”

Lúcia é retratada como uma criança que já sabia que seu destino estava irremediavelmente moldado por aquelas aparições. Em muitos momentos, o leitor talvez torça para que ela se arrependa e diga que foi tudo uma invenção e siga com sua vida de criança, a brincar pelos campos, ajudar os pais e seguir a vida de uma família camponesa que, se não era rica, tinha os meios para a sobrevivência garantidos por uma terra fértil e um rebanho gordo.

Mas Lúcia é uma pessoa atormentada pelas aparições, que não consegue entender todo o palavrório da mãe e dos padres a tentar lhe convencer de que não pode seguir com aquilo das aparições.

E ela conduz os primos para cada uma daquelas aparições, observando o crescimento da multidão, em número e fanatismo, certa de que tem um papel a cumprir. Um fado.

Estamos em 1917, a guerra consome parte da Europa, muitos dos rapazes das famílias da região estão em combate, há medo, busca-se aquilo que o deus retratado mostra como o maior valor de sua criação: a esperança.

E o que mais poderia dar esperança, em meio a medo e morte, do que uma aparição da mãe de Jesus?

Com todos esses ingredientes, Peixoto teve, repito, a ousadia de lançar em pleno centenário das aparições um livro que mexe de forma muito elegante e poética com uma das maiores marcas de Portugal do século XX, que viu a pequena vila se transformar em um centro de peregrinação mundial, que debateu e ainda debate exaustivamente a veracidade, o segredo, as revelações supostamente apocalípticas.

Fátima, um nome de origem árabe, dado a uma aldeia obscura no centro do pequeno país, tornou-se um nome próprio português por excelência. Maria de Fátima é o nome de milhares e milhares de mulheres em Portugal e no Brasil. Uma menina nascida em 13 de maio, como minha irmã, em uma família portuguesa, como é a minha, não tinha outro destino a não ser receber esse nome.

Peixoto, que já ganhou diversos prêmios, entre eles o Oceanos (o antigo Portugal Telecom) de 2016, é um escritor para ser lido e acompanhado. Tem uma prosa deliciosamente poética, maneja bem demais as metáforas e consegue fazer com que você acredite piamente nas reflexões um tanto metafísicas de uma menina de 10 anos. Esse é o encanto da literatura, ora pois!

 

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The Statesman, May 2017

07.08.17

When death triggers creative grief

 

Death…What does it mean? Each one of us has a different perception of mortality. One such perspective is in Morresteme, penned by noted Portuguese writer Jose Luis Peixoto. The Indian edition of the work, published by Goa 1556 Publishers, is trilingual (Hindi, English and Portuguese).

 

The book was released by the Ambassador of Portugal, Joao da Camara, at Instituto Camoes ~ the Portuguese Embassy Cultural Centre ~ in New Delhi at a literary evening. While the Hindi title of the book is Tum Choor Gaye, the title of the English translation is You Died.

 

The titles draw attention to the crux of the book, which revolves around the passing away of the author's father, and his experiences of dealing with the grief, and coming to terms with the fact.

 

Anil Kumar Yadav, an MPhil student of Portuguese language, is one of the translators of the book into Hindi. When asked about the challenges he faced while executing this project, Yadav candidly remarks, "Since the book talks about a loss and the associated grief, the portrayal of the intense emotions felt, through the medium of words, was definitely a challenge. The second aspect is the unique style of the author, wherein feelings and memories are depicted through the medium of elements in nature. Besides this, some words are strongly associated with the culture of Portugal and carry a lot of depth, because of which intense care, during the translation, had to be taken."

 

Rahul Khari, who teaches Portuguese language at Delhi University, worked intensively on the translation of the book, with Yadav, and seconds the latter as he adds, "Having experienced loss myself, I understand the fact that though it is difficult to translate emotions, sentiments associated with grief are universal and hence easily associated with, irrespective of the language." On a philosophical note, he explains the concept further "The grief may consume you, so much so that you reach the very bottom; however, time is a healer, and slowly, but steadily, one does rise."

 

Peixoto, the author, describes his book as a very personal work, as it deals with very intense and private emotions, which were, actually, enhanced, as he himself stepped into fatherhood a little after the loss of his father. How does he feel the reader will react to the book? His answer is simple, yet very thought-provoking: ''Parents are a very important part of one's life and the structure of a family. This bereavement is faced by everyone, at some point in time, in varying intensities. The idea of the book is to establish a connect with the reader based on this universal emotion."

 

The author, who has been in India for the third time now, describes the feeling associated with the publishing of his book in a trilingual work as overwhelming and satisfying. "I credit this work to the translators, as they have done a great job in conveying the emotions and expressions concerned in a simple, yet touching manner, without losing or diluting the essence of the book."

 

Any messages for the reader? Yadav says, "The book requests a certain amount of disciplined reading. Reflection and introspection are very important to fully understand the book."

 

Prior to this, the trilingual edition was launched on World Poetry Day, at the Camoes - Portuguese Language Centre in Goa.

 

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Estado de S. Paulo, Julho 2017

30.07.17

'A Criança em Ruínas', primeiro livro de poesia do português José Luis Peixoto, sai no País

Obra foi publicada em Portugal em 2001, um ano após o lançamento de 'Morreste-me e de Nenhum Olhar'

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S.Paulo

17 Julho 2017

 

“Cada palavra possui um palmo desse quintal infinito”, diz um dos versos do escritor português José Luis Peixoto no livro A Criança em Ruínas. O quintal da “casa onde memórias se sentam nas cadeiras para jantar em pratos invisíveis”. Onde a família passava os domingos “com gasosas e uma galinha depenada”, onde as crianças brincavam em paz. E por onde o menino corre para abraçar o pai.

Peixoto nasceu em Galveias, hoje com pouco mais de mil habitantes. Galveias é, também, o título de seu romance mais recente publicado no Brasil - e vencedor, em 2016, do Prêmio Oceanos. Tudo começa ali. Tudo volta para lá.

“A infância tem um espaço muito grande na minha obra. Os romances que tratam do ambiente rural, por exemplo, estão muito ligados à minha infância e adolescência, pois nasci e vivi nesse meio até os 18 anos”, diz o escritor que estreou na literatura com Morreste-me, um delicado relato sobre a morte do pai e a volta à casa após essa perda que ecoa também, e com força, em A Criança em Ruínas.

A obra que chega agora ao Brasil foi publicada em Portugal em 2001, um ano após o lançamento de Morreste-se e de Nenhum Olhar, que lhe rendeu, no ano seguinte, quando ele tinha 27, o Prêmio José Saramago. Traz textos que escreveu a partir dos seus 20 e poucos, e que estavam guardados na gaveta, e outros feitos quando já pensava em organizar um volume de poesias.

 

Jose Luis Peixoto - foto de Patricia Santos Pinto.

O autor. 'Sem este livro eu não seria eu' Foto: Patricia Santos Pinto

 

Muita coisa aconteceu desde então e Peixoto se tornou um dos principais autores de sua geração. Mas ele trata com carinho sua estreia poética. “De certa forma, 16 anos depois, este livro faz parte da ‘infância’ da minha escrita, no melhor sentido desse termo”, diz. Por isso, o livro é tão especial para ele. “Mas a mina de onde o extraí já fechou. Hoje, não seria capaz de escrever muito do que está nessas páginas. Daí que lhe encontre especial valor. E, no entanto, neste livro, encontra-se com facilidade as raízes daquilo que escrevi mais tarde, que estou a escrever agora. Sem este livro, eu não seria eu.” 

Há muitas formas de se ler o título da obra. A criança destruída, infeliz. A criança em meio ao que foi destruído. A criança em meio ao que restou da destruição. Desamparo e resistência. Todas fazem sentido, ele concorda. Mas, considerando as dimensões que constituem o livro, ele explica que chegou a esse título refletindo acerca de quanto da criança que fomos ainda permanece no adulto que somos. “Seremos nós as ruínas dessa criança? De que forma o tempo nos toca e, também, de que forma nos relacionamos com o tempo, com as idades, com a vida?”

Peixoto ainda sente falta daquele tempo. “Tenho saudades de muitas das coisas boas que conheci e que perdi, temporária ou permanentemente. Escrever, muitas vezes, é organizar a saudade ou, pelo menos, é a ilusão de ser capaz de organizá-la”, explica. 

Seus poemas estão em constante diálogo, nominalmente ou não, com a família. “(...) Recordas mãe como morreu/ como acabaram os domingos e as manhãs/ para nunca mais ser domingo/ ou manhã no nosso quintal?”

E em diálogo com seus fantasmas. “Na hora de pôr a mesa, éramos cinco:/ o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs/ e eu. depois, a minha irmã mais velha/ casou-se./ depois, a minha irmã mais nova/ casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,/ na hora de pôr a mesa, somos cinco,/ menos a minha irmã mais velha que está/ na casa dela, menos a minha irmã mais/ nova que está na casa dela, menos o meu/ pai, menos a minha mãe viúva. cada um/ deles é um lugar vazio nesta mesa onde/ como sozinho. mas irão estar sempre aqui./ na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco./ enquanto um de nós estiver vivo, seremos/ sempre cinco.”

O livro é dividido em três partes. Na primeira, temos a lembrança da criança a brincar no quintal, no chão da cozinha, a morte a rondar e a certeza de que aquele tempo não volta mais. Na segunda, o ar está pesado e o poeta, carregado de angústia e espera. Na terceira, o amor, a paz sentida ao ver o filho dormir, o fim do amor, a lembrança do amor juvenil, a solidão.

Segundo o autor, essas três partes procuram sugerir uma possibilidade de história. “Talvez várias idades, se as partes forem consideradas em sucessão, ou várias dimensões, se forem consideradas em simultâneo. Em qualquer dos casos, essa divisão é mais uma pergunta do que uma afirmação. Caberá aos leitores encontrar a resposta definitiva e, creio, pessoal. Este é um livro bastante íntimo. A minha ambição sempre foi que os leitores encontrassem nele o reflexo da sua própria intimidade.” 

Refúgio. É na infância que se formam os aspectos essenciais da nossa personalidade, comenta o autor. “A vida é feita de mudança, como escreveu Camões. Nesse movimento, perde-se muito. Em cada perda, é tentador olhar para a infância, quando ainda se tinha todos os sonhos, todas as opções, todas as pessoas.”

Do menino que foi restou o “olhar limpo”. “Todas as idades têm características positivas, que nos são úteis ao longo de toda a vida. Há vantagens em manter uma parte da inocência e da ingenuidade da infância. A poesia e a vida ganham com esse olhar limpo. Manter características como essas, no entanto, são um esforço intelectual.” 

 

 

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Gazeta do Povo, Julho 2017

29.07.17

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Viajaste-me

A caminho de Paraty, o premiado escritor português José Luís Peixoto passou por Curitiba para lançar um livro; aqui, ele conversou com a Gazeta.

Lívia Inácio

 

A camiseta de José Luís Peixoto diz que ele ama Macau (é uma daquelas com estam­pa "eu • e o nome da cidade"). "É o único lugar da China onde ainda se fala portu­guês", diz o escritor. A estampa, no entan­to, está em chinês. Se encontrasse uma di­zendo "Eu "Curitiba", ele diz que usaria.

 

A caminho de Paraty, no Rio de Janeiro , o português  passou  pela capital paranaen­se no último dia 24 para o lançamento de "O que dizem os abraços e outras crônicas", editado pela Arte e Letra em colaboração com a Escola de Escrita. Um dos textos é de­dicado a Curitiba. Num evento em que con­versou com o professor da UFPR Guilherme Gontijo Flores, Peixoto tratou também de seu primeiro livro de poemas, "A criança em  ruínas", publicado pela Dublinense.

Nascido em Galveias, pequena aldeia de Portugal com pouco mais de mil habitantes, Peixoto é um escritor respeitado. Sua lin­guagem particular aliada a temas sensíveis como o amor, a morte e a família, tem cha­mado a atenção de críticos do mundo todo e rendido vários prêmios ao autor. O primei­ro veio quando ele  tinha  apenas 27 anos, o José Saramago, em 2001, por "Morreste­-me" (um título lindo, em que se refere ao pai). Em 2016, seu romance "Galveias" ven­ceu o Oceanos.

Peixoto, que estudou inglês e alemão e chegou a lecionar, tem um denso currícu­lo literário que vai de romances e livros de poesia a trabalhos não ficcionais, como "Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte", de 2012. O português também já escreveu para crianças. Seu mais recente tí­tulo infantojuvenil, "Todos os Escritores do Mundo Têm a Cabeça Cheia de Piolhos", foi publicado no ano passado.

Peixoto veio ao Brasil para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que termina neste domingo (30). Em en­trevista à Gazeta do Povo, o autor fala so­bre família e Curitiba.

 

 

Por que a família é um te­ma tão presente para você?

Há certos temas que mesmo que tentemos evitá-los acaba­mos sempre por trabalhá-los. No meu caso, claramente, a família é um desses assun­tos.Está presente desde o meu primeiro livro "Morreste-me". Para mim, falar de família é um pretexto para falar sobre o amor, a identidade, o pas­sado, o lugar de onde chegamos e sobre o lugar que so­mos capazes de construir com a nossa vida.

 

Você chegou a dizer que não classifica "Morreste­-me", seu primeiro livro, co­mo um romance . Em que gênero você o encaixa?

Fujo o quanto posso de clas­sificá-lo. Acho que é um texto com características que escapam à maioria dos gêneros. É em prosa, mas tem uma ligação muito for­te com a poesia. É muito breve, mas acaba por ter certa dimensão que tam­bém o aumenta para lá do seu número de páginas.

 

Você acaba de lançar uma coletânea editada e publica daem Curitiba com uma crônica dedicada à cidade. Qual sua relação com a ca­pital paranaense?

Essa é minha segunda vez em Curitiba, tive a oportu­nidade de andar pela cida­de e, por isso, tenho uma relação muito imediata com ela. Viajei para outros luga­res do Brasil, mas Curitiba é um Brasil especial, é um Brasil um pouco diferen­te [de Portugal] e que me surpreendeu muito. O pa­ís, com sua imensa diversi­dade, tem uma identidade forte. Mas aqui descobri re­alidades bem particulares. Fiquei até com curiosidade de conhecer outras cidades do Paraná. Além disso, sin­to que o mais importante das cidades são as pessoas. Então, talvez também tenha sido por isso que estabeleci bons vínculos aqui. Por cau­sa das relações que tenho com as pessoas que conheci.

 

'Apesar de todas as fronteiras visíveis e invisíveis, aqui é esse Brasil sem Copacabana, sem Amazônia, sem acarajé. Porque Brasil também é camisola de lã, carne de onça, empate a zero do Clube Atlético Paranaense na Arena da Baixada. E se for feriado na Ucrânia, haverá muitas casas deste Brasil onde não se esqueceram as danças certas para celebração, onde os trajes tradicionais são usados por gente loura que almoçou picadinho."

Trecho do texto sobre Curitiba, no livro "O que dizem os abraços e outras crônicas", de José Luís Peixoto.

 

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Hit&Run, Junho 2017

26.06.17

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Από τους σημαντικότερους σύγχρονους Πορτογάλους πεζογράφους, ο Ζοζέ Λουίς Πεϊσότο επισκέφτηκε την προηγούμενη εβδομάδα την Αθήνα, προκειμένου να παρουσιάσει ταμυθιστορήματά του Βιβλίο και Γκαλβέιας στο πλαίσιο του Φεστιβάλ Λογοτεχνία Εν ΑθήναιςΑπλός και χαμογελαστός, εμφανίστηκε στη συνάντησή μας μ’ ένα tshirt, όπου το όνομα του Ίνγκμαρ Μπέργκμαν ήταν τυπωμένο με heavy metal γραμματοσειρά!

Είσαι, ταυτόχρονα, «παιδί» της μεταδικτατορικής περιόδου της Πορτογαλίας, καθώς γεννήθηκες το 1974, αλλά και του χωριού Γκαλβέιας. Πώς «εγγράφονται» αυτά τα δύο στοιχεία μέσα σου, πώς σε έχουν επηρεάσει ως άνθρωπο και ως συγγραφέα;

Νομίζω ότι είναι μια πολύ ενδιαφέρουσα ερώτηση, γιατί αυτά τα δύο στοιχεία συνιστούν τους πυλώνες που κάποιος πρέπει να λάβει υπόψη του, όταν μιλά για την ταυτότητά του. Από τη μία, η Ιστορία, η στιγμή κατά την οποία γεννιέσαι, και, από την άλλη, ο πολιτισμός. Η επίδραση της Ιστορίας και του πολιτισμού είναι θεμελιώδης στην κατανόηση της ταυτότητάς σου και, αν είσαι συγγραφέας, της δουλειάς και της οπτικής σου.

Ας ξεκινήσουμε από την Ιστορία.

Σε ό,τι, λοιπόν, αφορά την Ιστορία, δεν αποφάσισα να γεννηθώ το Σεπτέμβριο του 1974, απλώς συνέβη. Είχαμε μια Επανάσταση που τερμάτισε τη Δικτατορία τον Απρίλιο, γεγονός αρκετά αστείο, γιατί όλοι στην Πορτογαλία ξέρουν πού βρίσκονταν στις 25 Απριλίου του 1974, κι εγώ βρισκόμουν στην κοιλιά της μητέρας μου! Ποτέ δε γνώρισα τη λογοκρισία, τον πόλεμο, ή την απομόνωση, στην οποία βρισκόταν η χώρα εκείνα τα χρόνια, κι έτσι μεγάλωσα με μια εντελώς διαφορετική οπτική.

Άλλωστε υπήρξε μια από τις πλέον μακρόχρονες δικτατορίες της σύγχρονης ευρωπαϊκής ιστορίας.

Διήρκεσε 48 χρόνια, που άφησαν πολλά σημάδια. Η μέρα της Επανάστασης ήταν το επίκεντρο ενός γεγονότος, το οποίο χρειάστηκε χρόνια για να ξεδιπλωθεί. Κι όμως, είναι ενδιαφέρον το ότι, 12 χρόνια αργότερα, η Πορτογαλία γινόταν μέλος της Ε.Ε. και ανοιγόταν στην Ευρώπη και τον κόσμο- κι αυτό συνέβη πολύ γρήγορα. Πρόκειται για ένα πολύ σημαντικό γεγονός για όλους τους συγγραφείς της γενιάς μου στην Πορτογαλία, αν και δε διαθέτουν όλοι τα χαρακτηριστικά που θα τους κατέτασσαν σε μια γενιά.

Όσον αφορά τη γενέτειρά σου, το Γκαλβέιας;

Στη διάρκεια της περιόδου, κατά την οποία μεγαλώνεις ως παιδί ή έφηβος, καθορίζεις πολλές αξίες και ιδέες που αναπτύσσεις- και ίσως τελειοποιείς- αργότερα. Για μένα, το υπόβαθρο της ζωής σ’ ένα μικρό χωριό με έχει επηρεάσει σε τεράστιο βαθμό. Αποτέλεσμα της επιρροής αυτής είναι και τα βιβλία που γράφω.

 

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Το Γκαλβέιας, κυρίως, φαντάζει σαν μία παθιασμένη ερωτική επιστολή στη γενέτειρά σου- ιδίως με τον ποιητικό τρόπο, με τον οποίο τελειώνει.

Ακόμα κι η επιλογή του ονόματος του χωριού ως τίτλου του βιβλίου είναι από μόνη της ένας φόρος τιμής. Ο τίτλος ενός μυθιστορήματος είναι το «πρόσωπό» του. Όταν επιλέγεις θέμα, ασφαλώς υπάρχει μια ορθολογική πτυχή στη διαδικασία, αλλά υπάρχουν κι άλλες, κι είναι κι αυτές σημαντικές. Για μένα, το να γράφω γι’ αυτό το θέμα είναι μια επιβεβαίωση της ταυτότητάς μου.

Συγκρινόμενοι με άλλους νιώθουμε, τουλάχιστον Πορτογαλία, μερικές φορές κατώτεροι. Αυτό σχετίζεται με τη διπολική οπτική που έχουμε για τους εαυτούς μας: μερικές φορές αισθανόμαστε ότι είμαστε οι καλύτεροι- οι ναυτικοί, οι οποίοι ανακάλυψαν και κατέκτησαν τον κόσμο- κι έπειτα νομίζουμε πως είμαστε πολύ μικροί, μια μικρή χώρα στα Νότια της Ευρώπης χωρίς επιρροή στον κόσμο. Ταξιδεύουμε ανάμεσα σ’ αυτά τα…

Άκρα;

Ακριβώς. Και κάποιες φορές δεν ξέρουμε πού ακριβώς βρισκόμαστε. Γι’ αυτό κι έχει σημασία η επιβεβαίωση, στην οποία αναφέρθηκα: ότι είμαι από το Γκαλβέιας! (Χαμογελά περήφανα). Είναι κι ένας τρόπος να εφιστάς την προσοχή στις αγροτικές περιοχές, που διατηρούν στοιχεία της κουλτούρας μας προερχόμενα από ένα μακρινό παρελθόν. Το να γνωρίζουμε ποιοι είμαστε και να είμαστε περήφανοι γι’ αυτό δεν είναι συνώνυμο του να είμαστε εναντίον των άλλων. Αυτός ίσως είναι ένας από τους ρόλους της λογοτεχνίας, να είναι σαν μια συλλογική συνείδηση, μια επιβεβαίωση αυτού που ο καθένας ξέρει, αλλά δεν είναι πλήρως αναγνωρισμένο.

Οι χαρακτήρες του Γκαλβέιας αντλούν την έμπνευσή του από πραγματικούς ανθρώπους;

Καθένας από τους χαρακτήρες έπρεπε να κερδίσει την τιμή να αποτελεί μέρος του βιβλίου, γιατί, αν και πρόκειται για μυθιστόρημα με πολλούς χαρακτήρες, δεν είναι τόσοι όσοι εκείνοι, τους οποιους θα ήθελαν να αναπαραστήσουν. Καθένας τους, λοιπόν, έφερε χαρακτηριστικά που θα μπορούσαν να περιγράψουν διαφορετικές πτυχές αυτού του πλήθους, του πλήθους αυτού του μικρού χωριού.

Πόσο μικρό ήταν;

Σήμερα έχει 1.000 κατοίκους, αλλά το 1984 αριθμούσε τους διπλάσιους. Αν συνεχίσει έτσι, θα γίνει ακόμα μικρότερο τα επόμενα χρόνια.

 

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Στο Βιβλίο ανατέμνεις με μυθοπλαστικό βάθος τη μεταναστευτική εμπειρία των Πορτογάλων και των Πορτογαλίδων στο παρελθόν. Η μετανάστευση και η προσφυγιά παραμένουν επίκαιρα ζητήματα και σήμερα.

Είναι επίκαιρο βιβλίο από πολλές απόψεις. Στις μέρες υπάρχει το ζήτημα του μεταναστευτικού και των προσφύγων, το οποίο αποτελεί μεγάλη πρόκληση για όλους μας.

Ισχύει και αντίστροφα- άνθρωποι που μεταναστεύουν από την Ελλάδα ή την Πορτογαλία, για παράδειγμα.

Κάποιες φορές δεν είναι απόφαση, είναι αναγκαιότητα. Στην Πορτογαλία, όπως και στην Ελλάδα, υπάρχει αυτή η παραδοσιακή ιστορία της μετανάστευσης. Στην Πορτογαλία σχετίζεται με τους ανθρώπους, οι οποίοι πήγαν στη Γαλλία. Μετά από κάποιο διάστημα, ωστόσο, στη διάρκεια της δεκαετίας του ’90, νομίζαμε πως είχαμε ξεμπερδέψει μ’ αυτό το ζήτημα. Τώρα, όμως, είμαστε πάλι μια χώρα που βλέπει τους ανθρώπους της σε άλλες χώρες. Οι άνθρωποι πάντα φιλοδοξούν να ζήσουν μια καλύτερη ζωή και τα σύνορα είναι πάντοτε κάτι, το οποίο πρέπει να διαχειριστούμε. Όπως κι η σχέση μας με τους άλλους, οι απειλές που νιώθουμε. Η μετανάστευση είναι  μόνιμο φαινόμενο.

Πώς βλέπεις τα πράγματα στην Ευρώπη στις μέρες μας- πολιτικά, κοινωνικά, ηθικά;

Είμαι πολύ απογοητευμένος από την Ευρώπη. Όταν η Πορτογαλία εισήλθε στην Ε.Ε., ήμουν 12 χρονών. Ακούγαμε λόγους για την Ε.Ε., ότι θα ήταν κάτι σαν κοινότητα χωρών, οι οποίες θα επιθυμούσαν το κοινό καλό. Ως παιδί, το «έχαψα». Σήμερα βλέπω πωςη Ε.Ε. δεν είναι έτσι, και δεν είμαι σίγουρος αν ποτέ ήταν. Οι διαχωρισμοί είναι πιο έντονοι από ποτέ, ενώ δεν προστατεύει τα συμφέροντα των Ευρωπαίων πολιτών. Με το Μεσανατολικό σε έξαρση και την κατάσταση στις Η.Π.Α. που είναι απρόβλεπτη και με ανησυχεί, νιώθω ότι είναι πολύ αδύναμη. Κι αυτό, ως Ευρωπαίο, με αφήνει ανασφαλή, αλλά κάνει και τον κόσμο πιο ανασφαλή. Οι μικροί είναι αυτοί που αφήνονται πίσω ή παραμερίζονται.

Οι έπαινοι και το βραβείο που έλαβες ως πρωτοεμφανιζόμενος στο λογοτεχνικό κόσμο υπήρξαν ευθύνη ή κίνητρο για σένα;

Ευτυχώς, όταν έλαβα το λογοτεχνικό βραβείο Ζοζέ Σαραμάγκου ήμουν κάπως ανεύθυνος, γιατί ήμουν 26 χρονών. Συνειδητοποίησα τι σήμαινε μόνο μερικά χρόνια αργότερα, γεγονός όχι κακό, επειδή, για να γράφεις και να εκδίδεις βιβλία πρέπει να έχεις λίγη ευθύνη, αλλά και ανευθυνότητα. Η υπερβολική υπευθυνότητα μπορεί να σε παραλύσει. Ήμουν, λοιπόν, αρκετά ανεύθυνος, ώστε να συνεχίσω να γράφω, και μάλιστα να είμαι και πολύ ριζοσπαστικός από λογοτεχνικής άποψης. Αυτό αποδεικνύει, όμως, ότι δεν έκανα σχέδια, ούτε έχτιζα καριέρα. Το σημαντικό, ωστόσο, ήταν ότι, κερδίζοντας το βραβείο, είχα την ευκαιρία να γνωρίσω τον Σαραμάγκου και να διατηρήσω φιλική επαφή μαζί του μέχρι που πέθανε το 2010.

Πώς θα τον περιέγραφες;

Ήταν ένα δύσκολο παράδειγμα, κατά κάποιο τρόπο. Ήταν πολύ αυστηρός και με πολύ ισχυρή στάση, λογοτεχνικά μιλώντας, αλλά και στο επίπεδο του δημόσιου λόγου και της δημόσιας θέσης. Ο Σαραμάγκου ήταν διαμορφωτής γνώμης. Όποτε μιλούσε, είχε μεγάλο αντίκτυπο στην Πορτογαλία. Μερικές φορές θα αναδείκνυε ζητήματα στην πολιτική ατζέντα. Πάντοτε μου επαναλάμβανε πως θα πρέπει να προσέχω τη δουλειά μου ως σύνολο. Αυτό μου έδινε κατεύθυνση, με ανάγκαζε να έχω ένα σκοπό.

Είχε, εξάλλου, πολύ ισχυρές πολιτικές πεποιθήσεις και ήξερε τι ήθελε. Οτιδήποτε έγραφε ή έλεγε ήταν βασισμένο στις αρχές του. Δε συμμερίζομαι όλες τις πεποιθήσεις του- έχω τις δικές μου-, αλλά η πεποίθηση του να είσαι πιστός στα πιστεύω σου, να τα διερευνάς και να δρας βάσει αυτών ήταν πολύ σημαντική.

Και ο Μπέργκμαν;

Θα παρατήρησες ότι είναι γραμμένο με heavy metal γραμματοσειρά, σαν τους Iron Maiden! Το βρίσκω σημαντικό να διασταυρώνω τον Μπέργκμαν με τους Iron Maiden, γιατί είμαι κομμάτι της διασταύρωσης διαφορετικών μορφών πολιτισμού, διαφορετικών τρόπων αντίληψης της κουλτούρας. Σήμερα, με την πρόσβαση που έχουμε σε τόσες διαφορετικές πληροφορίες, δεν μπορούμε να μένουμε ανέπαφοι από τέτοια ερεθίσματα. Και δεν πρέπει να βιώνουμε το άγχος της επιρροής. Ξέρω πως δεν προέκυψα απ’ το πουθενά, προέρχομαι από αυτούς που προηγήθηκαν. Είναι προνόμιο να βασίζεσαι στην εμπειρία του Ίνγκμαρ Μπέργκμαν ή των Iron Maiden.

Ή του Σελίν;

Ο Σελίν είναι ένας συναρπαστικός συγγραφέας. Υπήρξε μεγάλη μου επιρροή, γι’ αυτό θέλησα να του αποτίσω ένα φόρο τιμής στο Βιβλίο.

Ευχαριστώ ιδιαιτέρως τον Ζοζέ Λουίς Πεϊσότο για την πνευματώδη κουβέντα και την Μαρία Ζαμπάρα από το Γραφείο Τύπου των Εκδόσεων Κέδρος για την πολύτιμη συμβολήτης στον προγραμματισμό της.

Τα μυθιστορήματα του Ζοζέ Λουίς Πεϊσότο Βιβλίο και Γκαλβέιας κυκλοφορούν από τις Εκδόσεις Κέδρος.

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