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Por que ler os contemporâneos?, 2014

21.05.15

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Por que ler os contemporâneos? Autores que escrevem o século 21

org. Léa Masina, Dublinense 2014 

 

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Público, 7 de Outubro de 2000

12.05.15

NÃO AS ESTRELAS, MAS O ESPAÇO NEGRO QUE AS SEPARA

Eduardo Prado Coelho

 

A data é fácil de fixar - no rodar do milénio, entre um século e outro século: 1999-2000. Quando alguns pensavam que a ficção portuguesa, esgotada nos seus nomes consagrados, tinha alguma dificuldade em renovar-se de um modo afirmativo e convincente, tivemos, de uma só vez, três nomes que mudaram por completo a imagem que lentamente se estava a construir: Pedro Rosa Mendes, em primeiro lugar, com "A Baía dos Tigres", na Dom Quixote; depois, ainda na Dom Quixote, Mafalda Ivo Cruz, com "A Casa do Diabo; por fim, na Temas e Debates, uma surpresa absoluta: "Nenhum Olhar" de José Luís Peixoto. São livros extremamente diferentes, embora todos eles marcados por uma visão impiedosa, e por vezes rasa, desolada, inclemente, da realidade. Se Pedro Rosa Mendes nos desconcerta com uma ficção desenvolvida segundo os códigos do relato de viagem, e onde dificilmente sabemos onde está a verdade e onde está o fingimento; se Mafalda Ivo Cruz consegue produzir situações de esvaziamento sonâmbulo que permitem uma batida cega do inconsciente; já José Luís Peixoto nos dá inesperadamente uma narrativa rural, feita de situações limite, onde evocamos algum Raul Brandão, é certo, mas agora, como os tempos são outros, cada movimento do texto nos leva a subir "os últimos degraus da noite" até ao lugar "onde os homens deixam de ser homens".

 

É extremamente agradável lermos um grande autor que já conhecemos, e, página a página, conseguirmos confirmar todas as suas qualidades. Avançamos em terreno balizado, sabemos com o que contamos, apreciamos sobretudo a perícia e o engenho na renovação. Mas há nesta forma de leitura uma espécie de conforto assegurado.

 

Já é diferente quando de repente nos vem parar às mãos um texto de alguém que não conhecemos, que não sabemos quem é nem o que faz. Começamos a ler com todas as reservas, espreitando numa página a página seguinte, cautelosos, cépticos como se transportássemos aquele olhar cansado que já atravessou o mundo desde o início, viu tudo e tudo ouviu, e já nada espera de perturbante na vida. E aos poucos a questão coloca-se: vou deixar-me cair desamparadamente dentro deste texto, submeter-me a ele, ao seu ritmo, à sua regra íntima, à sua respiração? Lentamente, todas as palavras antigas são agora novas, resplandecentes, inaugurais. E continuamos a ler para saber até onde será possível manter este exercício funambular de caminharmos sobre o vazio, em pleno voo de um texto, suspensos e disponíveis, deslumbrados e rendidos. É o que sucede com "Nenhum Olhar" de José Luís Peixoto.

 

O livro começa por nos envolver pela escrita. Desde as primeiras linhas que nós sabemos que não se trata aqui de contar uma história e conseguir transmiti-la bem; trata-se de inventar um movimento de escrita do qual decorre toda a evidência da narrativa. Ora José Luís Peixoto tem essa qualidade notável: bastam duas linhas, e entramos num continente novo, num lugar inédito do espaço literário. Depois, resta saber até que ponto isto vai ser possível sustentar-se ou desenvolver-se. E neste romance o leitor pode estar certo de que a partir da segunda ou terceira sequência ficamos seguros de que a inclinação é fatal: vamos embater num limite, num muro, num enigma, na origem do mundo e no desastre final, num empolgamento incontrolável dos seres, das palavras, dos sinais, das paisagens, das situações, numa altíssima conjura de que não poderemos escapar.

 

Coloquemos as coisas nestes termos práticos. Este livro é feito de dois livros, que repetem, com uma parente distância de trinta anos (rapidamente reabsorvida pela espacialidade mortífera da escrita), diversas situações - repete-as em eco, em rima narrativa, em complementaridade, em assimetria e desequilíbrio, em conspiração do destino. Donde, há uma prega, uma dobra, um vinco que faz que tudo se relança no absurdo de tudo ser definitivamente o mesmo. Mas não é: porque no interior da repetição (e em termos estilísticos, toda a força do discurso de José Luís Peixoto vem do uso mágico da repetição), agem dois tipos de forças. Por um lado, temos o processo entrópico: página a página, o vazio propaga-se, a destruição insinua-se, a crueldade cresce, a desrazão aumenta. Mas, por outro lado, as explosões multiplicam-se num clima de tal modo alucinatório que a cadência feroz do nada invasor se torna estranhamente eufórica, de um vazio esplendoroso. E os gritos, as súplicas, os fabulosos monólogos interiores, as crispadas interrogações voltadas para a cor sempre excessiva de um céu emudecido de deuses, criam-nos a certeza de que onde o deserto cresce cresce também a palavra que o nega.

 

É verdade que "o fundo invencível da morte puxou-te para o seu interior infinito. Vais, puxado, a cair a maior queda." É verdade que "estás morto e, dentro da morte, sabes que estás morto. Ambos o sabemos. O que imaginaste da palavra esperança perdeu o sentido. Não há esperança, porque somos demasiado pequenos, somos muito pouco. Somos uma agulha de pinheiro diante de um incêndio, somos um grão de terra diante de um terramoto, somos uma gota de orvalho diante de uma tempestade." E "não há forma de explicar tudo o que se diz quando se diz sofrer".

 

Mas há aqueles momentos em que um olhar toca outro olhar - ambos tocados já pela distância que desde logo arruina esse florir de uma presença. Porque neste livro em que as pessoas se destroem, se traem, se embrutecem, se maltratam, se emparedam em quartos forrados da noite mais espessa, há momentos raros, furtivos, siderais, em que essas pessoas se encontram: "... e achei que era assim que todas as pessoas encontravam alguém. Chegava uma pessoa vinda de lado nenhum, sem motivo para chegar ou com um motivo que não se entendia, e oferecia-se a outra pessoa, e essa pessoa achava tudo isso natural, porque era assim que todas as pessoas encontravam alguém, e era nesse momento tão grande que ambos se entregavam para a vida, sem olhar para trás ou pensar pouco, ambos se entregavam um ao outro para a vida, porque, a partir desse momento grande, toda a vida seria assim natural, inexplicável e grandiosa. Faltou-me saber que o que é num instante o mundo, não é o mundo sempre."

 

Mas onde alguém supõe que se atingiu o lugar do início do mundo, essa primeira manhã de todas as evidências, vai-se dar um comércio de morte que tem a ver com uma espécie de crime primordial que atravessa o tempo e que nos reenvia implacavelmente para "o negro absoluto da solidão, apático negro, absoluta solidão, eterno, eterna.". E aqui o encontro converte-se numa dádiva de morte: "a tua morte tem avançado para dentro de mim como uma doença a querer progredir."

 

Todo o livro é apenas este "western" a carvão e chamas em que dum lado se ergue a súplica indefesa de cada ser e do outro se expande o laço fatal duma repetição sem transigências. E daí que se possa dizer esta coisa simples e terrível: "a noite onde morreste anoiteceu no que sou". Neste livro o mundo é uma queda infinda. E apenas se lhe contrapõe o desejo insensato daquele que nos diz que "gostava que o mundo não fosse uma queda." Neste "western" metafísico e extremamente concreto, o herói positivo é a verticalidade de um sol improvável. E a figura do mal desenvolve-se através da pastosa irreversibilidade do tempo. E este produz um reincidente desacerto nos seres, que estão sempre desajustados da sua própria evidência: "porque nunca falámos e hoje é demasiado tarde". Tudo perdido, tudo em perdição incessante, porque desde sempre se viveu a partir de um equívoco desatento: "nunca ninguém se lembra de procurar as coisas onde elas estão, porque nunca ninguém sabe o que pensa o fumo, ou as nuvens, ou um olhar."

 

Neste livro, há na aldeia um homem que escreve. De janelas fechadas, isolado, emparedado como os outros, mas insistindo em escrever, em imaginar no cego confronto que despedaça os seres uma fala íntima que os transfigure. A grande força deste espantoso livro de José Luís Peixoto está aí: no modo como narra histórias que se dobram para dentro da sua própria loucura e no fio puríssimo de luz com que as vai reunindo e salvando do esquecimento. Tudo acaba, incluindo a escrita. Mas no limite de tudo acabar acaba também a própria morte, e entra-se num espaço inaudito e impensável: "o infinito era o infinito de não ser nem infinito nem nada". E se o mundo acabou, e já não há mais tinta para escrever, começa na página seguinte essa coisa extraordinária que é o fim do medo e da morte: "tinha morrido a memória da morte" e "o medo não existia porque não existia ninguém para o sentir". E é aí, neste lugar que não é vazio porque não chega a ser lugar, que tudo se pode repetir como se fosse a primeira vez: a partir de nenhum olhar, um olhar encontra um olhar, e o escritor inventa um livro. Para escrever, não sobre as estrelas, mas sobre o espaço negro que as separa.

 

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O Tempo, 3 maio 2015

05.05.15

(texto abaixo)

O_Tempo03_de_Maio_de_2015Magazinepag5.jpg

 

Convidado do Festival de Literatura de Poços de Caldas, que se encerra hoje, o autor português José Luis Peixoto , 40, comenta sobre a sua relação com a escrita e frisa o seu interesse em lidar com temas como a identidade e as relações familiares. Em Belo Horizonte nesta terça (5), ele aqui participa do evento Sempre Um Papo, no Museu das Minas e do Metal, às 19h30.

 

A infância é um tema destacado na Flipoços deste ano. Como você percebe a relação desse unvierso com o seu mais recente livro, “Galveias”?

Esse romance tem muita a ver com a memória da infância. Como já mostra o título, Galveias é o nome da cidade onde eu nasci, na região do Alentejo, no interior de Portugal. Ela tem cerca de um mil habitantes. Lá eu vivi até os 18 anos, quando saí para estudar fora. Para fazer o retrato da vida naquela comunidade, eu recorri muito ao que eu vivi lá. A história está localizada temporalmente em 1984, quando eu tinha 10 anos. Portanto, as minhas lembranças de infância estão ali muito presentes. Agora isso é algo que aparece em muitos livros meus. Desde o primeiro, que se chama “Morreste-me” e que acabou de ser publicado no Brasil. Tenho um outro também de poesia que se chama “A Criança em Ruínas” e que de certa forma fala justamente sobre a forma como a idade nos transforma e como há sempre uma criança dentro de nós, a partir da qual evoluímos, ou seja, ela é quase uma raiz a partir da qual crescemos.

Em “Galveias”, você disse que também homenageia as pessoas daquela cidade e revisita o local, especialmente, a partir da memória. Se compararmos o retrato que faz daquele lugar na ficção com a realidade dela hoje, o que encontramos no texto é a reconstrução de um ambiente que flerta mais com o imaginário?

O interior de Portugal sofreu grandes alterações nos últimos 30 anos e, por isso, a realidade tratada no livro, localizada em 1985, é bastante diferente da contemporânea. Outro aspecto interessante é a diferença e a transformação que sempre existe quando se trabalha um tema ou uma realidade que depois são abordados num formato literário. Em primeiro lugar, existe esse filtro que tudo muda que é a própria memoria. A memória de certa forma é uma narrativa, uma história que contamos a nos próprios e nessa medida todos somos de algum modo escritores. Todos escrevemos a nossa própria memória e para fazer isso partimos de nossa perspectiva e do que conhecemos, o que é sempre imperfeito e é uma das faces da realidade. Mas, por outro lado, existe também a própria transformação de colocar em palavras o que não é constituído apenas por palavras porque a realidade é multidimensional e surge das mais diversas formas. Construir um objeto de palavras que tente dizer aquilo que aconteceu é necessariamente transformar aquilo que aconteceu, é tentar sugeri-lo, por isso existe sempre uma diferença entre esses dois planos.

A questão da ruralidade, que há em “Galveias”, permeia também outros títulos seus, como “Nenhum Olhar” e “Livro”. O que o interesse nessa abordagem?

Eu acho que naquela ruralidade existe alguns elementos que fazem parte da matriz genética da cultura portuguesa e, em alguns aspectos, sinto que naquela imagem de ruralidade existe a condensação de algo que se consegue encontrar mesmo nos sinais mais urbanos do Portugal contemporâneo porque tem a ver com a identidade, com quem somos. Na primeira vez que vim ao Brasil, eu estive em Minas Gerais e a, partir daí, senti que havia uma certa facilidade na comunicação aqui neste Estado, em particular, justamente talvez por essa questão da ruralidade. Embora exista algumas especificidades, esse aspecto compartilha elementos que são trasnacionais. Tem a ver com a ligação e com a proximidade da natureza, com a vida na qual a natureza marca ciclos e marca até um ritmo que muitas vezes condiciona e molda a forma de pensar e ver o mundo, e isso é fundamental.

Em “Morreste-me”, seu primeiro romance, há o foco para as relações familiares e para aspectos relacionados à sua cidade natal, o que se nota em outros livros. A presença dessas memórias íntimas e do diálogo com a sua biografia é uma marca do seu trabalho ficcional?

Quando escrevi o livro “Morreste-me” nem tinha consciência de que estava a escrever um livro. O tema é muito sensível, escrevi esse livro após a morte do meu pai e o romance trata disso, de um filho que perde um pai. Mas muito facilmente aquela história também pode ser transposta para outras perdas porque no fundo é um livro sobre o luto. E é interessante pensar no livro à luz dessa questão da infância porque sinto que é um livro que fala sobre o fim da infância. O momento em que morre o pai e o filho se torna o próprio pai, assume esse papel, ganha esse estatuto de ter que tomar responsabilidade e ser adulto. Quando escrevi esse livro não tinha um projeto de escrita para o futuro, eu era jovem, estava entre os meus 21 e 22 anos. Eu escrevi sobre aquilo que naquele momento me era evidente. O assunto que naquele momento eu não podia fugir. A partir daí, o caminho que eu fiz na escrita acabou por, de alguma forma, sempre se ligar a esses temas. Por uma razão que eu não sei completamente explicar. Embora tenha também tentado de alguma forma me afastar desses temas, como através do meu último livro publicado no Brasil, “Dentro do Segredo”, e que fala de uma viagem à Coreia do Norte. A verdade é que mesmo a escrever sobre a Coreia do Norte, eu percebi que no fundo estava sempre a escrever sobre mim. Ou seja, estava quase a fazer um retrato desses mesmos temas quase que em negativo. Isso tem a ver com aquilo que se tem que dizer, porque é muito importante na hora de se escrever um livro colocar uma pergunta que é essencial, o que é que eu tenho pra dizer. E pra mim aquilo me trouxe sempre garantias que não estava a ser redundante, a repetir de uma forma o que outros já tinham dito antes de mim. A história da literatura é enorme, o patrimônio literário mundial é gigantesco, então, eu sempre quis escrever sobre aquilo que parecia que só eu sabia, e aquilo que só eu sabia é algo muito próximo de mim.

Antes de publicar livros, você tinha uma banda. Em que momento isso muda, e você deixa a música para se tornar escritor?

Eu nunca me considerei um músico. Eu tive uma banda na minha adolescência e há, aliás, uma banda de Belo Horizonte, Sepultura, que para mim é fundamental. Eu a vi em 1991 e foi incrível. Esse sempre foi o meu som. Aqui no Brasil não é muito comum encontrar escritores que preferem esse tipo de banda, como Ratos de Porão, e outras coisas assim. Mas efetivamente na minha adolescência esse tipo de música foi importante como uma afirmação da adolescência e, ao mesmo tempo, foi importante para mim porque vivendo numa pequena cidade do interior de Portugal, em que a realidade toda é rural, ter essa ponte para o mundo fez com que eu também ganhasse uma perspectiva e uma distância sobre essas duas realidades. Ou seja, o fato de eu olhar um pouco de fora toda essa ruralidade fez com que eu conseguisse ver esse lugar de uma forma diferente. Para mim caminhar com a guitarra elétrica por rebanhos de cabras é uma imagem que considero muito especial e tem muito a ver com aquilo que eu vivi ali.

Essa experiência com a música ficou só na adolescência?

Já mesmo depois de ter publicado meus primeiros livros tive alguns projetos ligados à música, mas não como músico. Mas, por exemplo, em 2003 publiquei um livro que se chama “Antídoto” e foi escrito ao mesmo tempo que uma banda, Moon Spell, que é o Sepultura português. Fizeram um disco que tem o mesmo nome do título, e cada tema dele corresponde a um conto desse livro. Isso foi algo muito fora do comum, pois não havia escritores portugueses a ter colaborações com bandas de heavy metal. Desde então, tenho tido vários colaboradores com bandas escrevendo textos para eles, sempre nesse gênero de colaboração, mas sempre como escritor, nunca como músico. Hoje em dia, em Portugal, também escrevo para outros tipo de músicos fadistas, por exemplo. Essa é uma área musical que sempre rejeitei, o fado na minha adolescência, sempre foi uma música que meus pais ouviam, e eu não gostava. Depois, na idade adulta, surgiram esses projetos, então eu fui descobrir o fado e fiquei surpreendido com o quanto a minha ignorância adolescente estava a me privar de um gênero musical incrível e que tem uma riqueza poética tão fascinante. Então, escrevo para muitos músicos portugueses, do fado, ao pop, ao metal.

“Dentro do Segredo” você concebeu a partir de uma viagem à Coreia do Norte, mas o livro não se constitui como um relato jornalístico. Como você percebe as relações que ele revela entre ficção e realidade?

A Coreia do Norte é um país muito fora do habitual, tem um sistema político único e com características que para nós são muito difíceis de aceitar. Ao mesmo tempo, é um país que tem uma realidade cultural e civilizacional bastante diferente da nossa, o que faz com que para um visitante ocidental seja quase  como um mistério por desvendar e interpretar. Ao mesmo tempo, contribui muito para esse mistério o fato de o governo dificultar muito o acesso à informação. Mesmo quando se visita o país, há sempre muita dificuldade de obter respostas, e aquilo que se vê, em muitos casos, são apenas insinuações feitas para nós. Então, por isso aquele livro, que retrata a viagem que eu fiz durante  semanas na Coreia do Norte, acaba por muitas vezes se deparando com essa dificuldade de aquilo que eu estava a ver não ser muito credível como realidade. Mas havia sim a sensação de se estar verdadeiramente dentro de uma ficção construída pelo aparelho de propaganda do estado norte-coreano. Nessa medida esse livro tem uma relação com a ficção, mas eu fiz uma questão que seja também factual e documental. Ou seja, quando faço uma afirmação lá, eu estou convicto de que ela é verdadeira.

Você também escreve poesia. Há características comuns identificadas entre essa seara e a sua prosa?

A minha poesia tem uma ligação muito grande com a minha prosa, em alguns casos isso é muito evidente. Esses temas que falamos aqui, como a família, a identidade geográfica, também estão presentes na minha poesia. Eu sinto, no entanto, que há alguns aspectos que diferenciam os dois segmentos. No meu caso particular, tenho uma perspectiva da poesia em que ela aspira uma certa ideia de pureza e de simplicidade. Curiosamente, muitas vezes, meus versos são mais simples do que  as frases dos meus romances. Há dois livros que foram publicados em 2003, de uma só vez. Um romance que já foi publicado aqui e se chama “Uma Casa na Escuridão” e um livro de poesia que se chama “Uma Casa, Escuridão”. Esses dois livros têm títulos próximos, tratam de temas afins e seguem a mesma estrutura, mas um é independente do outro.

Como você vê o cenário literário contemporâneo do seu país?

Portugal está atravessando um momento de muita vitalidade no que diz respeito a literatura de autores emergentes, embora haja uma boa quantidade de nomes que já ultrapassaram essa posição. São nomes confirmados e dos quais se espera um grande futuro e que boa parte deles são conhecidos aqui também no Brasil e são publicados e bem recebidos aqui. Eu vejo esta geração com muito otimismo e fico contente por fazer parte dela. Sinto que essa riqueza tem um pouco a ver com a herança que recebemos de grandes autores das gerações anteriores e, ao mesmo tempo, tem a ver com aspectos históricos que moldaram essa geração. No meu caso específico, eu nasci em 1974. Este é um ano importantíssimo porque marca o fim de uma ditadura de 48 anos em Portugal. Isso é algo muito importante para a geração atual de escritores. É a primeira que nasceu e cresceu numa democracia, sem censura e todos os entraves que existiam durante o período da ditadura. Acho que esse é um aspecto que realmente trouxe força e, de alguma forma, justifica o surgimento desse número de autores que começaram a publicar no início desse século e que realmente tem recebido um grande reconhecimento em Portugal e fora dali. Por exemplo, Valter Hugo Mãe, Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, Dulce Maria Cardoso entre outros.

Em relação ao Brasil, há alguns autores com quem você tem uma afinidade maior?

O Brasil é uma fonte que me parece inesgotável de autores. Muitas vezes, em razão da dimensão enorme do país, parece que há até uma certa injustiça no que diz respeito ao reconhecimento mais nacional de alguns deles. Efetivamente, às vezes, encontram-se autores enormes que não conseguem ser lidos fora do seu Estado, e, por isso, cada viagem que faço ao Brasil encontro sempre muitas referências e fontes de inspiração. Mas se vamos falar da literatura brasileira de maneira geral, há autores de dimensão universal que eu realmente não poderia deixar de me referir como é o caso de Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Graciliano ramos e Machado de Assis para citar apenas quatro.

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