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Jornal de Letras, Novembro 2017

27.12.17

ABAIXO, TEXTO DISPONÍVEL PARA LEITURA. 

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'O caminho também é um lugar'

 Manuel Halpern 

 

Cinco anos depois de Dentro do Segredo, o seu livro dedicado à Coreia do Norte, o escritor volta à ‘literatura de viagens’ com O Caminho Imperfeito. Histórias de uma outra Ásia – a Tailândia, igualmente recôndita -, de um submundo pernicioso e cru. Mas também uma viagem ao mundo interior do próprio escritor, com uma forte componente autorreflexiva e autobiográfica. O JL entrevista o autor, publica a crítica de Miguel Real àquele último livro e quatro poemas inéditos de quem também na poesia se distingue mas nos últimos anos não a tem dado a lume.

 

 

Chegou da Coreia do Norte e está de partida para a Finlândia. “E se mais mundo houvera lá chegara”, o verso d’Os Lusíadas que bem se aplica a José Luís Peixoto, escritor andarilho que desbrava o que resta dos mundos ocultos nesta sociedade global, que estreitou os caminhos da Terra. Em 2012, lançara Dentro do Segredo, um olhar sobre a Coreia do Norte, o mais obscuro dos regimes. Agora escreve sobre a Tailândia, em O Caminho Imperfeito, o seu segundo livro de ‘viagens’. Mas claro que não é uma Tailândia de postal, para estrangeiro ver, mas um mundo feito de submundos recônditos crus e chocantes. Mais do que isso, neste livro em que a realidade por vezes ultrapassa ficção, há uma viagem interior, introspetiva, testamentária, que cria elos com toda a sua obra.

Nascido em Galveias, em 1974, José Luís Peixoto é um dos mais internacionais escritores portugueses contemporâneos, livros seus estão editados em mais de vinte idiomas. Entre outras distinções, recebeu em 2001 o Prémio José Saramago pelo seu romance de estreia, Nenhum Olhar, e, já este ano, o prémio Oceanos, por Galveias. Dividindo-se entre ficção, poesia e literatura de viagens, iniciou a sua carreira em 2000, com Morreste-me, seguiram-se títulos como A Criança em Ruínas (2001, poesia), Uma Casa na Escuridão (2002), Cemitério de Pianos (2006) e Livro (2010).

 

JL: O livro começa com uma descrição algo chocante. Mas talvez o que que haja de mais chocante neste livro é estar catalogado como não ficção...

José Luís Peixoto: A Tailândia é um lugar de contrastes. Todas aquelas coisas são reais e aconteceram assim. Claro que depois há uma gestão da narrativa. O livro a partir de certa altura torna-se tão diferente, que rejeita a catalogação mais fácil.

 

Teve muitos anos uma crónica no JL intitulada ‘Verdades quase Verdadeiras’. Foi um caminho que sempre o interessou? A realidade como manancial de histórias ou aqueles momentos em que a realidade ultrapassa a ficção?

 A certo momento, o livro coloca o tema da autobiografia versus ficção. Reflete sobre a eterna questão de quanto tudo é ficcional e ao mesmo tempo autobiográfico. Em alguns momentos, deu-me prazer exercitar uma certa ironia através de factos absolutos, às vezes até estatísticos, que são muito eloquentes. Quando estamos a fazer o retrato de uma realidade exótica tudo acaba por ser muito diferente do que estamos à espera. Mas o livro também se movimenta nessa dualidade do longe e do perto. Por um lado, tem essa distância cultural e de perspetiva do mundo, diferente da nossa, mas por outro lado tem momentos de grande proximidade, de retrato íntimo, autobiográfico e pessoal. O confronto entre os dois acaba por ser a concretização dos polos desse caminho.

 

Descobrem-se várias camadas, o livro são muitas coisas ao mesmo tempo. No cinema muitas vezes fazem se ficções com técnicas de documentário. Aqui faz o inverso? Isto é um ‘documentário’ transformado em ficção? Usa ferramentas da ficção para falar da realidade?

Independentemente do caráter ficcional ou não de um texto, tem de ser considerada a sua eficácia narrativa. Nesse aspecto, fiz um exercício que requer um equilíbrio de vários aspetos. O livro é um caminho. Começa num ponto e termina noutro inesperado à partida. Acho isso interessante. Todos os livros propõem um caminho. Neste caso procurei que a existência desse percurso fosse muito clara. É uma narrativa feita de muitas narrativas.

 

É levada ao extremo a ideia de que quando se faz uma viagem não conta apenas o lugar para onde se vai, mas sobretudo como tal nos afeta interiormente. Tudo alimenta a viagem. É por isso que não há a mesma Tailândia para todos?

Sob o ponto de vista da descrição da Tailândia, o livro é uma hipótese. Tentei ultrapassar o estereótipo, muito forte e alimentado pela indústria do turismo. Mas eu quis ir a outros lados e colocar lá toda a minha subjetividade. O meu olhar não é neutro, nem objetivo. Nenhum olhar o é. Este livro tem muito de pessoal. Ao escrevê-lo foi o que mais me seduziu. A crónica da Tailândia foi, de início, o que me levantava mais desafios por ser um país tão diverso, que me deixava assoberbado a olhar para tudo aquilo, mas a partir de certa altura se foi organizando.  A forma como a Tailândia me marcou, com todas as suas capacidades simbólicas, foi, porém, o que transformou este livro em algo extremamente importante para mim e com um lugar muito particular em relação a outros livros que escrevi.

 

O livro sobre a Coreia do Norte, Dentro do Segredo, relata uma viagem num estilo muito diferente.

Sim, mas com esses pontos todos de contacto, na medida que também me transformou. Há uma visão sobre o lugar não objetiva. É um encontro com o outro, com todas as interrogações que trás. Classificar este livro como não ficção cria uma responsabilidade acrescida, porque se estabelece uma ligação com a escrita jornalística, com uma certa objetividade. Torna obrigatório retratar um espaço que existe e ser-lhe fiel. Isso para mim é muito complicado. Aquilo que encontro ali, apesar de ser objetivo e verdadeiro para mim, pode não o ser para outra pessoa.

 

Quanto tempo esteve na Tailândia?

Estive cinco vezes. Períodos de três e de duas semanas. A primeira foi depois de ter estado no Festival Literário de Macau. Contava ir à China, a Hong Kong, mas aconselharam-me a ir à Tailândia. Desde aí que tenho ido todos os anos. É uma cultura fascinante a vários níveis, quer do ponto de vista histórico, quer do seu quotidiano.

 

É um livro que permite que falemos sobre tudo, como se neste caminho coubesse o mundo inteiro. Um livro que coloca grandes questões universais...

Qualquer livro faz perguntas. A partir de certa altura colocam-se-me duas questões de forma muito direta: porque escrevo e porque viajo. São duas formas de perguntar ‘para que vivo’. Pois estes são dois símbolos muito claros da minha vida. Viajar, sob o ponto de vista mais físico, e escrever, do lado da reflexão, do pensamento. Mas são duas dimensões da mesma existência. Essas perguntas estão por baixo de todas as perguntas. No fundo, o livro vai dando várias hipóteses de resposta, ligadas a temas já trabalhados em livros meus, como as questões da família, o que leva o livro nessa direcção autobiográfica. Há um momento no livro em que eu faço um balanço da minha vida e penso como seria se morresse agora. Para mim essa reflexão foi o resultado lógico das perguntas que fiz. Apesar de haver reflexões quase absolutas, aplicáveis em outras circunstâncias, o livro nunca abdica das suas referências concretas. Tal como quando o livro falada Tailândia, parte daquelas ideias poderiam ser aplicadas noutras realidades nos seus princípios. Quando o livro fala sobre mim pode também ser aplicado a outras pessoas que o estejam a ler. Sem prejuízo de pretender ser simbólico e universa l pela própria natureza da literatura essa é a sua última vontade -, o livro é bastante particular, nele falo de forma muito concreta dos meus filhos, da minha família.

 

Chega ao ponto de fazer um testamento.

Quando se está a escrever o primeiro compromisso é com o texto. Mas não se podem deixar de considerar múltiplas circunstâncias em que ele possa ser lido. Fiquei a pensar que aquele texto poderia ser lido depois de eu morrer. É sempre uma situação sensível. Mas também acho que todos os textos devem ser escritos como um testamento. São a cristalização de um tempo que nos ultrapassa. A morte é uma grande fronteira. Marca uma grande diferença sobre a perspectiva da pessoa. Os textos são sempre escritos num passado e presentes num tempo que não é sempre exatamente o seu.

Embora aspirem a ultrapassar o tempo, todos os textos são datados, porque a sua verdade é sempre a do seu tempo. Claro que a riqueza do texto pode permitir múltiplas leituras que o façam sempre atual, mas o tempo em que ele foi escrito nunca é dado irrelevante. Existe sempre um compromisso com a História, do ponto de vista do tempo, e com a Cultura, do ponto de vista do espaço. O espaço em que um livro é escrito nunca é irrelevante, mesmo que possa fazer sentido em todo o mundo e em todas as épocas.

 

De alguma forma começou a escrever por causa do seu pai em Morreste-me. Aqui revela que começou a viajar também por causa dele. Há uma espécie de fechar de círculo?

Sinto que esse tema não se fecha. Mais do que ser um círculo é uma espiral. Esse é o grande tema da minha obra. Não sei se algum dia conseguirei sair daí da questão da filiação. Começa por ser a questão do pai, mas também é a questão dos filhos. No fundo são dois lados da mesma coisa. É uma questão que encerra muitas outras, como a do tempo. Não é por acaso que afiliação é um eixo narrativo de várias religiões, até do ponto de vista civilizacional, e nos organiza o pensamento. Sinto uma tendência para tratar esse tema e, em vez de contrariá-la, abraço-a, desde sempre.

 

Na sua obra, coloca os romances e a não ficção ao mesmo nível?

Há sempre uma pressão grande para escrever romances e um preconceito em relação ao resto. Como se por não ser um romance, o livro fosse menor. Cada género tem os seus desafios e a sua importância. Gosto de diversificar, de procurar e experimentar. As lições que aprendi a escrever romances são amplamente utilizadas aqui. Do ponto de vista da construção narrativa, as diferenças entre este livro e um romance são poucas.

 

Na badana da contracapa a sua obra aparece dividida apenas entre prosa e poesia...

Quando olho para um novo projeto, não consigo ignorar o que já fiz. Mesmo que isso aconteça encontro sempre ligações. Tenho a ambição que cada livro acrescente um novo ramo, mas não ignoro o tronco. Este livro relaciona-se com outros livros meus, como o Dentro do Segredo, as crónicas, o Morreste-me, o Cemitério de Pianos (até na estrutura)... Até com os livros mais ligados ao Alentejo, como o Galveias e o Nenhum Olhar. A dimensão autobiográfica está presente em todos. Este, O Caminho Imperfeito, em certa medida é o livro da adolescência, do rock’n’roll, das tatuagens, de uma cultura popular, mas às vezes transgressora.

 

Fala de coisas sérias, mas não é muito pesado.

Tentei que fosse, sob o ponto de vista da prosa, um livro fluido, de frases simples, para uma leitura ligeira. O humor é um aspeto que ameniza muito.  Embora seja temperado com outros elementos.

 

Viaja muito devido à vida de escritor, mas ainda assim acrescenta outras viagens. Porquê?

Há uma passagem do livro em que eu digo que era sempre o último a sair das festas. Desde sempre tenho grande ansiedade por viver. Raramente recuso convites, propostas, desafios. A minha ambição é sempre experimentar mais, ver, saber, sentir, tomar o gosto a tudo. Viajar para algumas pessoas é um objetivo de vida. Também há o momento que se diz no livro em que quem não viaja está a viver alguma coisa que quem viaja ignora. O livro faz essa apologia da viagem, embora lhe reconheça alguns lados menos positivos.

 

Diz que o caminho é um sítio. Sente-se em casa quando entra no avião?

O livro faz a apologia de viajar de avião, o que não é muito comum nos livros de viagem. Porque é tido como algo artificial, que não é verdadeiramente sentido. Há algum tempo que comecei a olhar para esses não lugares. Quando se tomam muito presentes ganham características que normalmente quem está de passagem não reconhece.

 

Escreve em qualquer lado?

Escrevi este livro em muitos espaços e circunstâncias. A escrita tem diversos estágios. Alguns são mais adequados para desenvolver em movimento. Contudo, para mim, a circunstância ideal para escrever é em casa. Mas escrevo em muitos lugares. Às vezes, a escrita pode ser uma âncora de estabilidade num meio em permanente alteração.

 

Há algum sítio onde ainda queira ir e escrever?

Há vários sítios que trazem grandes questões. Tenho viajado para a Ásia. É um continente fascinante. Quando se regressa da China é impressionante ver as paisagens imensas da Mongólia, do Azerbaijão, Cazaquistão... Espero ter a oportunidade de escrever mais livros com focos noutros pontos.

 

Se abrisse um concurso para escritores irem à Lua inscrevia-se?

Seguramente. De resto, o olhar com que se vai para qualquer lugar tem que ser semelhante ao de com que se iria para a Lua. Porque se nos convencemos que os nossos preconceitos são o suficiente, não vale a pena a viagem.

 

 

  

Viagem Iniciática

Miguel Real

 

José Luís Peixoto (JLP) atingiu a idade da meia-vida e, em registo de “não-ficção” (texto da contracapa), perfez uma viagem ao fundo da sua existência, sumariada no seu último livro, O Caminho Imperfeito. Note-se que o título não indica “um” (indeterminado), mas “o” caminho, bem definido, o “seu” caminho. Ainda que profana, trata-se de uma viagem verdadeiramente iniciática já eu tem como objetivo atingir o autoconhecimento e determinar os tentáculos existenciais que têm ligado a sua vida aos outros e ao mundo. Não se trata de ma viagem de prazer, ou uma viagem turística, ou uma viagem encomendada para uma repostagem, mas uma viagem ao fimou ao fundo de si próprio e, por via do caminho percorrido, desenvolver e atingir um autoconhecimento sintético e iluminante sobre a sua vida.

 

É neste sentido que, neste seu novo livro, a viagem, mesmo profana, é iniciática, busca fins de conhecimento, não materiais, não históricos, mas, seguindo a antiquíssima divisa de Sócrates, de busca de si mesmo. Porém, como Sócrates, o resultado atingido e o caminho percorrido como conteúdo concreto da viagem não comprazeram totalmente o autor/ narrador (ver diferença apontada no livro, pp. 100-101): gostou e não gostou da viagem.

 

Gostou porque descobriu a razão porque é escritor (p. 114) e porque viaja (p. 115) – não revelamos os porquês para não furtar o prazer da descoberta ao leitor; gostou porque cimentou laços familiares (por exemplo p. 103, o casamento em Las Vegas, p. 108, a ida da família toda a esta cidade, pp. 119-120) e a amizade com Makarov, o companheiro de uma das viagens, antifo amigo das tatuagens no Bairro Alto e ilustrador do livro; gostou porque face a duas cidades, a mais profana e materialista do mundo, Las Vegas/ EUA, e uma das mais religiosas e/ ou espiritualistas, Banguecoque/ Tailândia, defrontou-se consigo próprio, com os seus limites cívicos e mentais; gostou porque detectou fios inconsúteis  de ligação entre a infância e a adolescência numa aldeia  do Alentejo, o filho mais novo de um carpinteiro, e o adulto escritor e viajante, não uma vida artificial, mas uma vida genuína, no passado e no presente. Gostou, enfim, porque encontrou o fio ontológico de ligação da totalidade da sua existência, percebeu que não viveu inutilmente, e que o que tem feito (escrever, viajar) continuará a ser doravante o fulcro da sua vida.

 

Não gostou porque constatou ser “imperfeito” o caminho: “Quanto mais tento conhecer-me, mais percebo o quanto falta para me conhecer. Quanto mais ilumino, mais consciência tenho das enormes distâncias que falta iluminar” (p. 110); não gostou porque constatou que não é sujeito da sua existência: todo o artigo número 27, demasiado longo para aqui transcrever; não gostou, porque percebeu que o caminho é o lugar da imperfeição e a viagem, por maior, é sempre inconclusa: “Não sou o meu corpo, não sou o meu nome, não sou o que tenho, não sou estas palavras, não sou o que dizem que sou, não sou o que penso que sou” (p. 184). Não gostou porque percebeu que muito do que é como escritor lhe é exterior, que é apenas um elo do “caminho”: “Sou um caminho. Sou alguma coisa que vem de antes, que me foi entregue pelo meu pai. Também ele a recebeu. (...) Sou alguma coisa que continuará depois de mim, que entrego aos meus filhos” (p. 185). E, mais radical, na p. 152, a propósito da decisão impulsiva de partir para as duas cidades: “Será que alguém decide alguma coisa?”

 

A coesão do texto narrativo é dada pela história macabra de alguém que envia pelo correio de Banguecoque para Las Vegas várias caixas contendo a cabeça de um bebé, o pé direito de uma criança cortado em três partes, pedaços de pele tatuada e um coração humano. Narrada na primeira página, ela surge a espaços no texto, acrescentando nova informação, até finalizar a última página do livro. O leitor desconhece se, inserida num texto de certo modo confessional, a história é verdadeira. Porque alimentado pela “não-ficção”, pressupõe-se ter sido verdadeira.

 

Balanço final da viagem: “As palavras são espelhos imperfeitos. Escrever, mesmo com todas as insuficiências, é o que sie fazer para descobrir quem sou” (p. 113), e, interpretado o passado e o presente, conclui o autor/ narrador: “O velho que imagino que serei é o velho que gostaria de ser” (p. 147), ainda que a criança imaginada não tenha sido a criança real, a que foi mesmo, mas aquela é a única criança pensável pela memória e, portanto, a outra, a verdadeira, não existe.

 

De recordar ao autor.narrador o belíssimo final de Viagem a Portugal, de José Saramago: “A viagem não cana nunca. Só os viajantes acabam. E mesmos estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. (...) É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” No caso de JLP, traçar até ao final da sua vida, que desejamos longa, novo “caminho imperfeito”. 

 

Única falha: José Luís Peixoto atravessou o rio Mekong e não se lembrou  que foi aí que Luís de Camões naufragou.

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