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Açoriano Oriental, Janeiro 2017

06.01.17

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“Os escritores são pessoas iguais a todas as outras”

Escritor fala do seu novo livro infantil Todos os escritores do mundo têm a cabeça cheia de piolhos, da sua escrita e dos livros de que gosta.
 
Este seu novo livro fala de um mal comum a todos os escritores. Conte-nos um pouco sobre o mesmo.
Os piolhos são uma referência que, num ou noutro momento, marca presença em todas as infâncias. Por isso, num livro que se destina a crianças, pareceram-me a metáfora adequada para contar esta história em que, depois de um mal-entendido, que justifica o título provocador do livro, os jornais de todo o mundo dão uma notícia bastante polémica. Assim, essa foi a minha maneira de chegar às duas ideias principais que tentei veicular com o livro: por um lado, a enorme importância da imaginação e, por outro lado, a desmistificação do escritor. Ou seja, a constatação de que os escritores são pessoas exatamente iguais a todas as outras.
 
Como lhe surgiu a ideia para falar da imaginação dos escritores desta forma?
Pareceu-me que poderia ser uma forma de tornar concretos alguns conceitos que, de outro modo, poderiam ser difíceis de explicar. Tratou-se de uma ideia que nasceu de modo bastante espontâneo. Tenho muita prática de inventar histórias para o meu filho mais novo. Este livro é uma derivação, aperfeiçoada, desses delírios surreais que partilhamos.
 
Como tem sido a reação das crianças e/ou adultos a este seu novo livro?
Este é o meu segundo livro para um público mais jovem e, como já aconteceu no primeiro caso, tenho encontrado muitos adultos que me dizem que também retiraram algo dessa leitura. Fico contente, porque tenho bastantes dúvidas acerca de rígidas divisões etárias. Ainda assim, enquanto que em A Mãe que Chovia os leitores me falavam mais da forma como o livro os emocionava, neste caso falam-me mais das situações inusitadas e de algumas afirmações e episódios bem-humorados do livro.
 
Na sua opinião, como se descobre esta comichão imaginária em cada um de nós?
Penso que o primeiro passo será reconhecer-lhe importância. A imaginação é uma capacidade que nos será muito útil pela vida fora, independentemente do caminho profissional que seguirmos. A imaginação faz-nos falta em todas as áreas e em todas as idades.
 
Os livros sempre fizeram parte da sua vida. Como e porquê?
Sim, creio que os livros sempre tiveram uma forte presença. Atualmente, possuo muito mais livros do que durante a minha infância, mas sempre me interessei muito por aqueles a que tinha acesso, quer fossem destinados à minha idade ou não.
 
Escreve em vários registos. Qual deles o apaixona mais?
Não é fácil responder a essa pergunta sem sentir que estou a trair géneros que são muito importantes para mim, que me são essenciais. Não fugindo à questão, teria de assinalar o romance como o género literário que mais me realiza. A complexidade e o esforço que envolve são proporcionais à gratificação que oferece.
 
Quem é José Luís Peixoto?
Para mim e para a minha família, sou eu. Para outros, depende muito de quem menciona esse nome.
 

 

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Visão, 2011

15.05.14

Autoria e outros dados (tags, etc)

Leitura Gulbenkian, 2012

06.03.14

 

 

A mãe que chovia é a primeira incursão de José Luís Peixoto pelo universo da literatura dedicada aos mais jovens: um livro belíssimo, com a sensibilidade de linguagem de um grande autor, que assume que escrever para crianças não equivale a simplificações, nem da história, nem do estilo, nem das potencialidades criativas da língua. 

 

Como sempre acontece com os textos que verdadeiramente podemos classificar de literatura, a simplicidade desta narrativa depressa se desenvolve em planos sucessivos de leitura, que ultrapassam a linearidade aparente da história narrada. E o grande desafio literário, notoriamente superado neste livro, é fazer com que a própria linguagem adquira a capacidade de contar os factos mais estranhos e inverosímeis, com tal naturalidade e sabedoria que provoca no leitor imediata superação de qualquer efeito de estranheza, embrenhando-se no universo da realidade e lógicas próprias do universo ficcional. 

 

O livro conta-nos a história de uma criança que é filha da chuva. E esta facto é dado simplesmente como adquirido, sem mais explicações, nas primeiras frases do texto: «Desde sempre que toda a gente lhe dizia que era filho da chuva». Segue-se depois o dissipar das dúvidas do leitor, se as houvesse, através da caracterização da criança, o protagonista sem nome, que vai crescendo ao longo destas páginas: «Mas esse rapaz esperto, composto por boa disposição e com a idade de mais ou menos, não precisava que lhe dissessem que era a sua mãe. Ele conhecia-a melhor do que os assuntos que conhecia mesmo bem.» A mãe chuva aparece como uma verdadeira mãe, que vai seguindo do alto as passadas do seu filho, mas como no mundo inteiro «só ela sabia chover», viajava muito e «no verão tinha de ir chover em países distantes». Ora o menino ia crescendo, cada vez mais aborrecido e revoltado com as ausências da mãe: «Nesse ano, antes do verão, o rapaz começou a ficar coitado.» A mãe teimava em ficar, mas o vento, pouco dado a conversas, empurrou-a para bem longe, de novo, obrigando-a a cumprir o seu ciclo sazonal. 

 

No final, o filho acaba por aceitar e, num discurso poético, ato de amor à sua mãe chuva, declara-lhe que compreendeu que sem ela «a palavra verdejante não existiria» e mostra-lhe como se apercebeu de que a mãe «chovia palavras sobre o mundo», inundando-o de amor. Assim, neste realismo mágico que reconhecíamos dos primeiros livros de José Luís Peixoto, não é só de um amor entre a mãe e filho que nos fala o livro, como também das angústias pelas, por vezes necessárias, separações, como também da própria natureza, suas necessidades intrínsecas. As ilustrações, de Daniel Silvestre da Silva, acompanham lindamente o dramatismo do texto, oscilando entre o registo realista, quase fotográfico, e uma tonalidade onírica que tão bem acentua a poeticidade do registo adoptado por José Luís Peixoto, neste livro.

 

 

 

Rita Taborda Duarte, in Leitura Gulbenkian

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