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Recortes sobre José Luís Peixoto e a sua obra.
Viajaste-me
A caminho de Paraty, o premiado escritor português José Luís Peixoto passou por Curitiba para lançar um livro; aqui, ele conversou com a Gazeta.
Lívia Inácio
A camiseta de José Luís Peixoto diz que ele ama Macau (é uma daquelas com estampa "eu • e o nome da cidade"). "É o único lugar da China onde ainda se fala português", diz o escritor. A estampa, no entanto, está em chinês. Se encontrasse uma dizendo "Eu "Curitiba", ele diz que usaria.
A caminho de Paraty, no Rio de Janeiro , o português passou pela capital paranaense no último dia 24 para o lançamento de "O que dizem os abraços e outras crônicas", editado pela Arte e Letra em colaboração com a Escola de Escrita. Um dos textos é dedicado a Curitiba. Num evento em que conversou com o professor da UFPR Guilherme Gontijo Flores, Peixoto tratou também de seu primeiro livro de poemas, "A criança em ruínas", publicado pela Dublinense.
Nascido em Galveias, pequena aldeia de Portugal com pouco mais de mil habitantes, Peixoto é um escritor respeitado. Sua linguagem particular aliada a temas sensíveis como o amor, a morte e a família, tem chamado a atenção de críticos do mundo todo e rendido vários prêmios ao autor. O primeiro veio quando ele tinha apenas 27 anos, o José Saramago, em 2001, por "Morreste-me" (um título lindo, em que se refere ao pai). Em 2016, seu romance "Galveias" venceu o Oceanos.
Peixoto, que estudou inglês e alemão e chegou a lecionar, tem um denso currículo literário que vai de romances e livros de poesia a trabalhos não ficcionais, como "Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte", de 2012. O português também já escreveu para crianças. Seu mais recente título infantojuvenil, "Todos os Escritores do Mundo Têm a Cabeça Cheia de Piolhos", foi publicado no ano passado.
Peixoto veio ao Brasil para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que termina neste domingo (30). Em entrevista à Gazeta do Povo, o autor fala sobre família e Curitiba.
Por que a família é um tema tão presente para você?
Há certos temas que mesmo que tentemos evitá-los acabamos sempre por trabalhá-los. No meu caso, claramente, a família é um desses assuntos.Está presente desde o meu primeiro livro "Morreste-me". Para mim, falar de família é um pretexto para falar sobre o amor, a identidade, o passado, o lugar de onde chegamos e sobre o lugar que somos capazes de construir com a nossa vida.
Você já chegou a dizer que não classifica "Morreste-me", seu primeiro livro, como um romance . Em que gênero você o encaixa?
Fujo o quanto posso de classificá-lo. Acho que é um texto com características que escapam à maioria dos gêneros. É em prosa, mas tem uma ligação muito forte com a poesia. É muito breve, mas acaba por ter certa dimensão que também o aumenta para lá do seu número de páginas.
Você acaba de lançar uma coletânea editada e publica daem Curitiba com uma crônica dedicada à cidade. Qual sua relação com a capital paranaense?
Essa é minha segunda vez em Curitiba, tive a oportunidade de andar pela cidade e, por isso, tenho uma relação muito imediata com ela. Viajei para outros lugares do Brasil, mas Curitiba é um Brasil especial, é um Brasil um pouco diferente [de Portugal] e que me surpreendeu muito. O país, com sua imensa diversidade, tem uma identidade forte. Mas aqui descobri realidades bem particulares. Fiquei até com curiosidade de conhecer outras cidades do Paraná. Além disso, sinto que o mais importante das cidades são as pessoas. Então, talvez também tenha sido por isso que estabeleci bons vínculos aqui. Por causa das relações que tenho com as pessoas que conheci.
Trecho do texto sobre Curitiba, no livro "O que dizem os abraços e outras crônicas", de José Luís Peixoto.