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Sol, 6 novembro de 2014

24.02.15

Vestido de negro e ouvinte de música pesada era olhado com estranheza pelos habitantes de Galveias, a vila alentejana onde nasceu há 40 anos. Desde então, José Luís Peixoto mudou-se para Lisboa, onde fez a faculdade, participando activamente nos movimentos estudantis, e começou a escrever. Recebeu o Prémio Saramago em 2001 pelo seu primeiro romance, 'Nenhum Olhar', e tornou-se um dos mais destacados e bem-sucedidos autores da sua geração. Conhece meio mundo, por onde tem viajado com os livros e em reportagem mas regressou às origens e acaba de lançar 'Galveias', o seu quinto romance

 

Desde 2010, com 'Livro', que não publicava um romance. Acaba de lançar 'Galveias', sobre a terra onde nasceu. Como surgiu?

Penso muito em termos de romances. Tenho outros projectos pelo meio mas os pilares do que faço são os romances. E quatro anos tem sido o tempo entre eles. O tema aqui tratado já o foi noutros livros e textos que escrevi. Tem que ver com a região e com a vida de uma pequena comunidade rural. Realidade que estava presente tanto em Livro como em Nenhum Olhar, mas de forma diferente, com outra perspectiva e outras cores, porque o tema central era outro. A partir de certa altura surgiu a ideia de fazer algo diferente: nomear e concretizar. O título talvez tenha sido a minha primeira ideia. Depois veio o resto. Galveias tenta ser universal sendo particular. Tudo é nomeado. Foi fazer o caminho inverso. Em Nenhum Olhar nem o Alentejo nem Portugal são nomeados.

 

Lançou o romance em Galveias. Como foi a reacção das pessoas?

Óptima. Galveias é um local pouco noticiado, as pessoas gostam de ver as referências que lhe faço. Com um livro que lhe é exclusivamente dedicado, com Galveias no título, esse impacto foi maior. O lançamento foi um momento inesquecível para mim. Foi muito tocante ver todas as pessoas que constituem o mundo da minha infância e adolescência ali reunidas. E foi tocante fazer o que tinha antecipado enquanto escrevia o romance: oferecê-lo a Galveias. É um livro com a ambição de poder ser lido por qualquer pessoa em qualquer lugar. Mas vai sempre ser lido de maneira diferente ali, pelas pessoas que conhecem as ruas e as gentes.

 

Como foi crescer em Galveias?

Na adolescência não foi fácil. Na infância foi um enorme privilégio. Tinha total liberdade, todas aquelas ruas e campos estavam disponíveis para brincar. E eu utilizava-os com os meus amigos. Tinha acesso a experiências que hoje são difíceis de ter, como o contacto com a natureza. Naquele tempo íamos roubar fruta e os donos ficavam zangados e perseguiam-nos. Hoje a fruta cai das árvores sem que ninguém a colha. Os donos pedem às pessoas para a levar. Na altura os campos não tinham vedações. Hoje estão todos vedados. Entrávamos em qualquer propriedade e fazíamos todo o tipo de brincadeiras. O meu pai era carpinteiro e tinha uma serração de madeiras. Fazíamos brinquedos com pedaços de madeira e andávamos por lá. No Verão podíamos andar na rua até tarde, sem supervisão. Hoje, mesmo em Galveias, os pais vão levar as crianças à escola. Eu ia sozinho desde os seis anos.

 

Começa o livro dizendo que é filho do Peixoto da serração e da Alzira Pulguinhas. Era assim que era conhecido?

Essa é uma pergunta muito vulgar: 'De quem és filho?'. Hoje sou eu que a faço quando vou lá porque não conheço as crianças (ainda há algumas, ainda existe escola). Às vezes até lhes consigo identificar as parecenças mas, para as identificar, pergunto de quem são filhas. Era uma pergunta que me faziam muitas vezes. Uma resposta que também podia ser dada a essa pergunta seria: eu sou filho de Galveias.

 

Passava os dias com os seus amigos ou com os seus irmãos?

Tenho duas irmãs mais velhas, uma com mais oito anos, outra com mais 13 anos. Elas já eram crescidas, eu era um rapaz. Brincava com os amigos das ruas onde vivia. Nessa altura as ruas estavam cheias de crianças. Mesmo cheias. Jogávamos à bola na rua com as balizas feitas de pedras ou num campo com uma árvore no meio, a Azinhaga do Espanhol, que hoje já tem casas.

 

O mundo descrito no livro era o seu?

Sim. Nessa altura quando saía em excursão se alguém de fora me perguntava de onde eu era, respondia que era das Galveias, convencido de que toda a gente conhecia Galveias. Não tinha outro mundo. Até que na adolescência começou a custar-me estar lá, tinha perspectivas e interesses muito distantes daquela realidade. Desde o início da adolescência que tenho grande vocação para a música pesada. E nessa altura fiz uma banda chamada Hipocondríacos. O que foi chocante para as pessoas de lá. E comecei a deixar crescer o cabelo, a minha mãe tinha um desgosto de eu ter o cabelo comprido. Eu tinha que lidar com os olhares dos velhos nas carroças quando ia para os ensaios com a banda, com a guitarra eléctrica… Hoje percebo que se não tivesse sido assim tudo teria sido diferente e o interesse pela escrita talvez nunca tivesse surgido.

 

Porquê?

Porque um dos aspectos fundamentais de uma infância e de uma adolescência em Galveias é a aprendizagem do tempo. Foi dela que veio a disponibilidade, a contemplação, a reflexão. Noutro lugar seria diferente. Mas, já se sabe, é sempre assim: se o passado não tivesse acontecido como aconteceu, o presente seria de outra maneira.

 

Onde fez o liceu?

Em Ponte de Sor, a 12 km. Foi uma abertura para outro mundo, ainda que com diferenças grandes em relação ao que é a vida em Lisboa. Mesmo na Escola Secundária não passava de meia dúzia o número de pessoas que escutavam música pesada. Fui criando o meu espaço e habitando esse espaço de interesses que faziam parte do meu pequeno mundo, como a música, a literatura e as artes em geral.

 

Cresceu numa casa com livros?

Em comparação com as casas dos meus amigos, a minha casa tinha livros. Estamos a falar de casas onde não existia nenhum livro. Nenhum. E, se existiam, eram os da escola. Na minha casa existiam alguns livros, não só por interesse dos meus pais, mas pelas minhas irmãs mais velhas. Por influência delas comecei a ter muito interesse por livros e fui lendo o que havia. A minha mãe tinha algumas colecções que conseguiu quando a sua irmã trabalhou na Bertrand. E mais tarde ia à biblioteca itinerante da Gulbenkian. O que foi uma grande libertação, porque tinha acesso a muitos livros. Escolhia com apoio da minha irmã e do bibliotecário, que era o meu dentista, em Abrantes, e que me dava sugestões avançadas para a minha idade, como poetas portugueses contemporâneos, como Nuno Júdice e Herberto Helder.

 

Que idade tinha quando os leu?

Onze, doze anos. Na altura também tive uma grande enfatuação pela Florbela Espanca, uma autora que me dizia muito porque era muito dramática, muito trágica e, ao mesmo tempo, se referia ao Alentejo. Era a minha realidade. Também sentia grande empatia pelo Urbano Tavares Rodrigues e outros autores do neo-realismo. Eram os livros que eu tinha em casa para ler. Aquele que considero o primeiro livro que li foi os Esteiros, do Soeiro Pereira Gomes.

 

Vestido de negro, cabelo comprido, fã de heavy metal, agarrado aos livros. Era olhado com estranheza?

Completamente. Foi uma boa aprendizagem para a vida. Enfrentar os olhares dos colegas na Escola Secundária deu-me calo para lidar com os olhares dos outros. Até tenho uma certa necessidade adolescente de provocar e enfrentar esses olhares. Confesso que me dá prazer, até por ser tão fácil provocá-los… Uma pequena coisa como um piercing ou uma tatuagem já é impressionante. Como se tivesse importância.

 

As pessoas referiam-se a si como o escritor dos piercings e das tatuagens. Isso já mudou?

Sim. Hoje ter piercings ou tatuagens é comum. Não é assim tão subversivo quanto isso. É uma coisa minha. Fiz os primeiros piercings aos 25 anos, as tatuagens aos 30. E tenho vontade de fazer mais.

 

Aos 18 anos entra na Universidade Nova, em Lisboa. Foi um grande choque?

Foi. Se bem que eu já estava a preparar isso. O 12.º ano foi o ano em que eu mais estudei e me apliquei. Não queria perder a possibilidade de entrar na faculdade. E sempre pensei em Lisboa, era o exemplo que eu tinha das minhas irmãs. Uma estudou na Faculdade de Letras, outra no Técnico. Cresci a vir visitá-las. E quando vim para Lisboa já tinha relações aqui estabelecidas por via da banda. Tínhamos gravado duas demotapes e trocávamos cassetes com outras bandas punk e hardcore da zona de Lisboa. Fiz grandes amizades. E aprendi muito, era uma área que privilegiava o 'faça você mesmo'. Em Galveias gravámos duas cassetes e distribuímo-las internacionalmente. Trocávamo-las pelo correio. Tínhamos um sistema em que reaproveitávamos os selos infinitamente… Existiam publicações ligadas a esse pequeno mundo. Anos depois ainda chegavam pedidos de cassetes da Polónia, da Suíça, do Brasil, dos EUA, da Escandinávia…

 

 

Era guitarrista?

Sim. O que atesta um pouco a qualidade da banda: eu não sei tocar guitarra.

 

E escrevia as letras das canções?

Algumas, partilhava isso com o vocalista. Eram letras simples, reivindicativas, politizadas, contra ou a favor de algo. Tive um empenhamento político forte e radical. Estava ligado a grupos anarquistas.

 

O que fazia?

Todo o tipo de coisas. Existia um movimento estudantil forte, com uma grande contestação ao financiamento do Ensino Superior. Se não estou em erro, as propinas passaram de 1.400 escudos para 40 contos anuais. Envolvi-me muito nisso e entrei na Associação de Estudantes. Participava activamente em todos os movimentos do associativismo estudantil, manifestações, cartazes, publicações, panfletos. Com dois amigos, criei uma associação chamada MATA, um movimento anti-tradição académica, que se insurgia contra as praxes. Propúnhamos alternativas e éramos bastante interventivos. Conheci pessoas pelas quais, ainda hoje, tenho uma admiração imensa. Algumas continuaram na área da política, como o Rui Tavares, outros são jornalistas.

 

E a escrita?

Ia publicando os meus textos no DN Jovem e, na faculdade, coordenava o suplemento literário da revista da associação de estudantes. E escrevia. A escrita estava já completamente entranhada na minha vida. Mas não tinha expectativas de vir a ser um escritor profissional. Ainda estava na faculdade quando comecei a escrever o meu primeiro livro, o Morreste-me, embora só o tenha publicado quatro anos depois.

 

Nesse livro fala sobre a morte do seu pai, figura muito presente na sua obra…

Ele tinha acabado de fazer 57 anos e eu 20. Durante três anos estivemos à espera de que ele morresse, os médicos tinham-lhe dado apenas três meses de vida. 'Morreste-me' marca a minha idade adulta na escrita e acompanha a entrada na idade adulta na vida. Mas a relação com o meu pai é complexa, tem muitas nuances, que noutros livros também estão presentes, mesmo quando não são evidentes.

 

Ao acabar a faculdade foi dar aulas?

Sim. Tive o meu primeiro filho quando acabei o curso e fui dar aulas. Primeiro na Lousã, depois perto de Oliveira do Hospital. Depois dei aulas em Cabo Verde um ano. Foi lá que acabei de escrever o meu primeiro romance, 'Nenhum Olhar', na Cidade de Praia. Com 'Morreste-me' ganhei o prémio dos Jovens Criadores. E fui participar numa Bienal de Jovens Criadores da CPLP em Cabo Verde. Foi impressionante e quis voltar para dar aulas. Fui e encontrei logo um lugar para dar aulas com estatuto de professor cabo-verdiano. Foi um ano muito intenso. Dava dois horários completos, 50 horas semanais, a turmas a partir do 10.º ano, com mais de 40 alunos, com um alto nível de maturidade. Muitos já eram pais. Não existia o desafio nem a provocação constante que se sente nas escolas portuguesas. Os alunos tinham consciência de que estar ali era uma oportunidade.

 

Foi a primeira experiência fora do país?

Sim, nunca voltei a estar tanto tempo sem vir a Portugal. Quando voltei tinha o meu primeiro romance escrito e a convicção de que o queria publicar. De forma humilde comecei a enviar o livro pelo correio para editoras. Felizmente foi lido pela Maria do Rosário Pedreira, que estava na Temas e Debates a formar uma colecção de autores portugueses. O 'Nenhum Olhar' foi um dos primeiros livros dessa colecção. Teve uma recepção impressionante ao nível da crítica e um ano depois ganhou o Prémio Saramago. E iniciou-se este caminho.

 

Tudo isso surpreendeu-o?

E ainda surpreende. Fiquei assoberbado com o que estava a acontecer. Eram muitas solicitações e eu gosto de dizer que sim. Foi muito mais do que estava à espera. Hoje, quase 15 anos depois, já faço uma melhor gestão de tudo.

 

Como foi lidar com o sucesso?

Estava a experimentar com responsabilidades associadas. Tinha uma peça de teatro com estreia marcada no teatro da Bastilha, em Paris, e nunca tinha escrito uma peça de teatro. Músicos pediam-me letras e eu nunca tinha escrito uma letra. No ano passado convidaram-me para escrever um guião ['Entre As Mulheres'] e passados poucos meses estava a passar na RTP. Exige sangue-frio. Mas não tenho razão de queixa. Todo este caminho tem sido feito de privilégios. Só posso estar grato por tudo o que me tem acontecido. A situação em que me encontro é incrível e muito melhor do que alguma vez poderia ter imaginado. Posso escrever os livros que quero. Tenho leitores com vontade de os ler. Viajo com esses livros e encontro leitores em lugares que nunca imaginei. É fascinante.

 

Deixou de dar aulas ao primeiro livro?

Sim. No princípio de uma forma arriscada, colaborava apenas nalguns meios da imprensa. Mas a partir do momento em que recebi o Prémio Saramago, um prémio monetário substancial, criei a possibilidade de conquistar um espaço profissional. Mas trata-se de um percurso independente, não tenho uma entidade patronal. Tive de o construir. Hoje os meus livros são bem recebidos em Portugal e noutros países, o que me permite viver deles. Mas nas Galveias, onde as pessoas não conhecem outros escritores, e mesmo fora, as pessoas pensam que, economicamente, a minha vida é muito mais desafogada do que realmente é. Acham que quem aparece na televisão tem uma vida que corresponde a esse glamour. Essa não é a realidade. Nem para mim, nem para muita gente. Posso garantir a educação e a vida dos meus filhos e a minha própria. O que já não é mau, se pensarmos que isso vem da escrita, área que a maioria das pessoas deste país não está habituada a valorizar economicamente.

 

Em que sentido?

É constante o número de solicitações e pedidos para fazer as mais determinadas tarefas sem qualquer espécie de pagamento. E se alguém falar nisso é logo tido como um mercenário. Como se os canalizadores ou os polícias não recebessem pelo seu trabalho. Ir falar a algum lado sobre um tema escolhido por outros não é propriamente um prazer. É trabalho. Tal como escrever sobre um tema que me propõem. Mas ainda ontem escrevi dois textos nessas condições. E tenho muitos lá em casa à espera de serem escritos.

 

E por que aceita?

Porque nem tudo é dinheiro. Há muitos trabalhos que não são remunerados mas que recompensam ao nível de satisfação. Este ano participei num projecto que consistiu numa grande exposição no aeroporto de Lisboa, em parceria com o ilustrador Hugo Makarov. Tivemos trabalho, estivemos várias vezes no aeroporto e, no entanto, não fomos remunerados. O que é que ganhámos com isso? O prazer de saber que aquele trabalho é visto por milhares de pessoas que nunca iriam contactar com nada do que fazemos. Se estivermos a falar de convites de escolas e bibliotecas, então aí não há nenhuma espécie de remuneração. Fica o prazer.

 

Foi dos primeiros autores em Portugal a ter a cara num cartaz publicitário. Há quem diga que é um fenómeno de marketing. Isso incomoda-o?

Não. Cada um tem direito à sua opinião. Mas a minha obra fala por si própria. Fico surpreendido com os milhares de exemplares que os meus livros vendem. E os meus livros são intrinsecamente anticomerciais, na medida em que pela sua estrutura, tema e trabalho não têm nada que ver com thrillers ou literatura de fácil absorção. Portugal, em função da sua tradição, tem hábitos de leitura com uma certa elevação. O país deu um imenso salto em termos de educação nestas décadas. Temos uma classe média intelectual com um excelente nível e que não deve nada a ninguém, avalia por si e faz a sua leitura. Naturalmente que tenho a minha confiança e auto-estima muito elevada em relação à qualidade do que faço porque os meus livros têm críticas altamente elogiosas no suplemento Babelia do El País, no Times Literary Supplement, no Guardian, no Independent, na Folha de São Paulo, no New York Times, no Le Monde, no Figaro, no La Repubblica. O meu último romance foi finalista do Prémio Femina, em França, um dos mais prestigiados prémios para autores estrangeiros na Europa. E ainda não tinha 40 anos quando isso aconteceu. Não tenho nada a provar.

 

É um meio literário pequeno, o português?

Não. Queixamo-nos das nossas dimensões mas são elas que nos salvam. Existe coesão, tem um tamanho humano. É como Lisboa em comparação com outras cidades do mundo. É uma grande cidade à nossa escala mas tem uma dimensão humana, não é São Paulo, não é Deli. O meu trabalho integra-se na literatura portuguesa contemporânea, tenho consciência dela. Mas acho que quem escreve tem de manter distanciamento desse meio, envolver-se é criar uma teia de relações que não ajuda a algo fundamental: a independência e isenção. O grande compromisso tem que ser com a literatura. Não com o meio literário.

 

Está traduzido em 19 idiomas. O seu livro mais traduzido é o 'Nenhum Olhar'. Há uma universalidade naquele Alentejo?

Há um certo paradoxo. Acho que quanto mais se especifica, quanto mais se fala do que é nosso, mais tocamos no que também é dos outros. Com o 'Nenhum Olhar' tive oportunidade de assistir a um aspecto fascinante: o carácter transnacional da ruralidade. A ruralidade do Alentejo tem muitas especificidades, como a roupa tradicional. No entanto, a ruralidade da Roménia, com as suas especificidades, tem elementos muito semelhantes. Ou a ruralidade da Índia. Ou do Brasil. Ou dos EUA. Há aspectos que têm quer ver com questões que estão para lá dessa roupagem: há uma maior proximidade com a natureza, o céu está mais presente, as estações do ano estão mais presentes, a morte está mais presente. Uma pequena comunidade em Portugal partilha imensas características com uma pequena comunidade na China. Há aspectos que têm que ver com a nossa natureza. Esse é o centro da literatura, que trata aquilo que não muda. A literatura diz:isto já era assim e vai continuar a ser assim.

 

 

Vai levar 'Galveias' ao mundo...

Já está a ser traduzido para búlgaro. Vou receber um olhar de grande surpresa. Falar deste livro na Escandinávia convoca, para aquelas pessoas, uma realidade muito exótica. No Brasil faz sentido, conheço pessoas de lá que o leram e o entenderam à luz da sua realidade. É fantástico. Diz muito sobre a relação entre os dois países.

 

É no Brasil que tem a maior parte dos leitores fora de Portugal?

Os países onde os meus livros são mais lidos, fora de Portugal, são o Brasil, a Espanha, a Itália e a França. Depois há fenómenos, um livro que inexplicavelmente funciona bem num certo lugar. A primeira edição do Nenhum Olhar, nos EUA, vendeu logo 40 mil exemplares. Claro que nos EUA os números são diferentes. Para nós 40 mil exemplares é imenso, nos EUA não, os bestsellers ultrapassam o milhão de exemplares. Mas para um autor de quem nem conseguem pronunciar o nome…

 

Passa metade do ano a viajar, com os livros e para a Volta ao Mundo. Como é este salto de Galveias para o mundo?

Vejo Galveias com um olhar mais limpo do que se vivesse lá. O olhar é fundamental para um escritor. Tem de estar afinado e limpo. A riqueza da viagem dá-me património para traçar contrastes. Nessa medida acho que escrevo e vivo melhor. Viajar e ver outras realidades ajuda-me a sentir grato pelo que tenho.

 

Mas neste seu romance decidiu não retratar a realidade actual. Por que decidiu situar a acção em 1984?

Uns aspectos já não condizem com o presente, outros mantêm-se. Uma das razões que me levou a escolher 1984 foi justamente a de suscitar essa comparação. Parece-me que o presente perde. O romance fala de um tempo em que Galveias tinha crianças, esperança, perspectivas de futuro. Hoje essa não é a realidade do interior de Portugal, com escolas a fechar e infra-estruturas essenciais a deixarem de existir. Além disso, quis mostrar um interior que não fosse estereótipo de si próprio.

 

Em que sentido?

Em 1984 a realidade local já era tocada por elementos do mundo urbano. Não retrato um lugar em que todas as personagens andam de burro ou de carroça ou em que todas as casas são brancas… A realidade não é essa, é um lugar onde as personagens andam de motorizada, vêem telenovelas, há casas forradas de azulejos. O interior não pode ser um parque temático onde temos a expectativa de encontrar imagens rústicas e idílicas ou que, então, não nos interessa. E 1984 foi um momento próximo de uma viragem na vida do interior, com a entrada de  Portugal na CEE e tudo o que daí adveio. Além disso, em 1984 eu tinha dez anos, ao escrever pude recorrer à minha memória para caracterizar personagens, espaços e situações.

 

Não perguntou coisas à sua mãe?

A minha mãe é a minha grande fonte na escrita de um romance como este, tem uma memória melhor do que a minha e, apesar de o presente do romance se situar em 1984, há várias histórias que vêm dos anos 60 e outros períodos que não vivi. Mas trata-se de um romance muito ligado à minha experiência. Há elementos que ainda hoje são assim, como a ligação à terra das personagens e alguns constrangimentos sociais que nas pequenas povoações ainda existem. E há os aspectos ligados à vida de uma pequena comunidade, como as pessoas se conhecerem todas umas às outras, o que origina uma maior valorização do indivíduo mas também uma certa fiscalização da vida uns dos outros. O livro tenta retratar um pequeno mundo que pode ser transposto até para a vida nas cidades em Portugal. As cidades portuguesas também são compostas por comunidades onde estas formas de relação são replicadas, na medida em que se tratam pessoas que, elas próprias ou na geração anterior, chegaram deste meio e trouxeram esta forma de se relacionar. Por isso sinto que estas Galveias são, em certa medida, um pequeno Portugal.

 

O livro fala sobre muitas personagens e as suas histórias. São reais ou imaginadas?

A história de um lugar é a história das pessoas que o compõem. O lugar está presente porque estão lá as pessoas, que são quem o formou, quem o constitui e de quem a vida nesse espaço depende. As histórias têm múltiplas fontes. Algumas podem ter essa raiz autobiográfica. Mas o que cose todas estas personagens é ficcional, faz parte de uma intenção efabulatória de construir um objecto narrativo.

 

O que lhe disseram as pessoas, estavam com medo de se verem retratadas?

Não, não é a primeira vez que menciono Galveias, fica sempre claro que são textos ficcionais. Sinto que, tendo em conta a situação em que está Galveias neste momento, existir alguém que se lembre de apontar o foco para ali e mostrar aquela realidade é visto com bons olhos. Porque a sensação de quem está lá é a de que existe um esquecimento e um abandono daquela parte do país. Isto é o que eu posso dar a Galveias. O próprio facto de estarmos aqui a falar sobre essa realidade é importante. É uma forma de convidar as pessoas a conhecerem o espaço. Esta é uma questão nacional. Estamos a deixar o país evoluir de uma forma desequilibrada e mais cedo ou mais tarde vamos pagar essa opção.

 

Não há futuro em Galveias?

Eu quero acreditar que existe. Mas se as coisas continuarem como estão Galveias vai extinguir-se. No ano passado morreram 40 pessoas e nasceram duas. E passam-se muitos anos em que não nasce ninguém. Mas há sempre muita gente a morrer porque é uma população envelhecida. Desde 1984, a população de Galveias passou para metade, de 2 mil para mil pessoas. Se não se fizer nada vai continuar a diminuir. Há outros lugares do país à beira de ficar sem ninguém e outros que já não têm ninguém. O caminho que está a ser seguido não traz futuro. Nem tem futuro. Mas quero acreditar que se pode reverter isso. Galveias é um lugar com séculos de história. É mais velho que Nova Iorque. Espero que possa retomar o seu caminho. Porque também é um lugar com orgulho de si próprio, com cultura, com identidade. Este livro é, ele próprio, uma afirmação de identidade. Diz às pessoas: eu sou daqui, eu sou isto. E recusa o complexo em relação ao nosso passado e à nossa identidade rural, isolada da Europa e menos cosmopolita. Essa identidade é uma parte fundamental do que somos. E é uma riqueza. Estou optimista. Há uma geração que já não é tão tocada por esses complexos que recupera essa tradição, actualizando-a e dando-lhe novas roupagens.

 

Que relação têm os seus filhos com Galveias?

Passo lá algumas temporadas com eles. E tento-lhes mostrar e explicar como era a minha infância ali, como era a minha vida. A minha vida de hoje é radicalmente diferente. E a vida deles também.

 

Imagina-se a regressar a Galveias?

É difícil. Tenho a certeza de que quero sempre viver em Portugal. Mas com a vida que tenho agora, feita de muitas viagens, não me é fácil viver em Galveias. A relação é eterna. Mas agora não consigo imaginar isso a acontecer. Talvez no futuro.

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Sol online, 17 de Dezembro 2012

04.04.14

José Luís Peixoto: 'É difícil avaliar a felicidade dos outros'

 

 

17/12/2012 09:54:00
Se há lugares que poucos conhecem, a Coreia do Norte é um deles. Apesar do hermetismo, recebe alguns turistas por ano, em viagens organizadas acompanhadas por guias locais. Ninguém pode estar sozinho. José Luís Peixoto participou numa viagem desse tipo. Consigo levava a intenção de escrever um livro sobre um dos países mais mal conhecidos do mundo. Dentro do Segredo (ed. Quetzal) já está nas livrarias.

como surgiu a ideia de ir à coreia do norte?

tenho viajado bastante. a partir de certa altura impôs-se a escrita de viagens. o centro temático do que escrevi até aqui é o que me é próximo. se quisermos encontrar uma região que se associe à minha obra é o alentejo, onde nasci e cresci. quis procurar experiências, temáticas e cenários diferentes. a coreia do norte era diferente de forma extrema. esperava encontrar algo que me fizesse reflectir, que abanasse o meu mundo.

mas entre o alentejo e a coreia do norte há uma panóplia imensa de opções.

sempre tive interesse na realidade de países como a coreia do norte. e não é como se saísse de uma aldeia no alentejo e fosse à coreia do norte. há duas semanas acabei um ciclo de viagens: num mês fui ao brasil, macau, canadá e índia. o livro está ligado à minha experiência. não há a certeza da verdade, é um país enganador, com muitos jogos de espelhos, ilusões, alucinações, que fazem com que se duvide do que se vê e do que nos é contado.

receava a viagem. não partilhou onde ia. porquê?

existem ideias feitas e preconceitos em relação ao país que não sabia se deveria desmontar porque não tinha a certeza da sua validade. e fiquei mais receoso quando, em dezembro do ano passado, morreu kim jong-il, o líder incontestado e único da coreia do norte, o que colocou o país numa grande indefinição. achei que podia haver necessidade de provar algo à ordem internacional. para um estrangeiro, isso tanto pode ser uma vantagem como uma desvantagem.

fala-se de reféns…

em japoneses desaparecidos, que terão sido sequestrados pela coreia do norte, que o rejeita. mas há sinais que a incriminam.

não podia levar material impresso. mas decidiu levar o dom quixote.

foi um risco calculado. não é directamente subversivo, o que poderia ser uma atenuante. e era em português. receia-se que se tente fazer alguma espécie de proselitismo, religioso ou político. alguns já o tentaram, o que trouxe situações desagradáveis.

deixou o telemóvel à entrada do país. isso fez-lhe bastante impressão. porquê?

era um símbolo. habituámo-nos a estar sempre contactáveis. quando isso se perde, fica a insegurança.

assinou um papel em como não escreveria nada, o contrário da sua intenção.

não era viável esconder que escrevia livros. assumi-o desde o início. mas fiz saber que não era jornalista. ou não ia ou assinava o papel. assinei-o contrariado, achando que não teriam direito de, depois, me impedirem de dizer o que vi. quando cheguei fui averiguar qual a validade do documento em termos legais. não é muita. há um valor superior: a liberdade de expressão.

qual foi a sua primeira grande impressão ao chegar?

a constatação de lá estar, que nunca dei por garantido. houve um momento em que a agência me enviou um e-mail a dizer: ‘não podemos garantir que o percurso que se pensou fazer seja feito. pode desistir agora’. foi perturbador. estava em causa não só a viagem como a intenção de escrever um livro.

a viagem foi organizada por uma agência de viagens chinesa. é a única forma de lá entrar como turista?

não, existem agências na holanda, frança e china. só que as viagens são mais curtas, de cinco dias. não há turismo de massas. fui com um grupo de 20 pessoas que, numa parte da viagem, teve de ser dividido. não havia possibilidade de sermos hospedados todos em certas cidades. e as estradas não suportavam veículos onde fôssemos todos.

sublinha várias vezes ser contra todos os regimes totalitaristas e ditatoriais. por que sentiu essa necessidade?

achei importante. li muito sobre a coreia do norte e muitas coisas faziam a apologia do país e do regime. mas é um regime violento, cruel, que merece a nossa condenação, por mais interessante que seja avaliar um extremo a que uma sociedade pode chegar, avaliar um extremo a que a natureza humana pode chegar, sob a perspectiva da crueldade e da prepotência e da submissão.

diz que a coreia do norte não é um regime comunista. porquê?

não tenho nenhuma intenção de desculpabilizar as ditaduras comunistas que não são, em aspecto nenhum, melhores do? que quaisquer outras. sou contra todos os tipos de ditaduras. há um livro sobre a coreia do norte, que cito, de um senhor chamado myers, sobre a sua ideologia. confirmando o que li com o que vi, é sobretudo nacionalista e racista.

em que sentido?

promove tudo o que é coreano e a raça coreana em detrimento das outras. os inimigos, como o japão ou os estados unidos, são demonizados a partir de uma perspectiva racial. as ditaduras ditas socialistas sempre fizeram uma distinção entre a população e os seus dirigentes. no caso da coreia do norte, até as crianças americanas são representadas como facínoras. o único país, dos inimigos declarados da coreia do norte, em que existe uma distinção clara entre a população e os dirigentes é a coreia do sul, em que os dirigentes são retratados como fantoches ao serviço dos eua ou do japão, mas a população é vista como irmã, algo que foi separado artificialmente mas que um dia se reunirá. parece-me que no momento em que as coreias foram divididas e que kim il-sung começou a organizar o país, foi empurrado pela ordem internacional para esse lado. o mundo estava dividido, tinha de encontrar uma forma de sobreviver. havia uma guerra, precisava de apoio. veio desse lado.

os princípios do socialismo não estão lá?

são aplicados mas creio que são uma forma de organização, não um valor ideológico.

mas há a percepção de que é um país comunista. tivemos a polémica de o pcp não o condenar.

ainda existe um mito em relação a isso. o pcp não apoia o regime da coreia do norte. foi próximo, mas que já não é.

o que mais o surpreendeu na viagem?

tive uma margem de liberdade maior do que imaginei. existem algumas bolsas de descanso. as pessoas riem-se com gosto. dançam e cantam. e as trocas de afecto são muito mais visíveis no quotidiano da coreia do norte do que aqui.

teve contacto com o quotidiano das pessoas? percebeu, por exemplo, como se casam?

os casamentos são livres. as pessoas casam-se com quem querem. mas há coisas que entram em consideração para essas escolhas, como a posição social. o que também acontece aqui. é o normal. namoram e casam. e o estado garante-lhes uma casa.

uma casa?

tem muito que se lhe diga. morar-se na capital só está acessível a alguns, a uma elite. e tudo é definido pelo estado: onde moram e em que condições.

o estado está presente em tudo?

sim. a roupa é fornecida pelo estado, a comida também, quase não há comercio.

e há igualdade de género?

teoricamente sim, mas as mulheres têm papéis muito definidos, atribuídos por questões tradicionais, relacionadas com os filhos.

aqui também.

sem dúvida. já morreram 36 mulheres este ano [vítimas de violência doméstica].

é comum, por exemplo, encontrar mulheres no exército?

sim. na construção civil e no exército. mas os papéis são bem definidos.

as pessoas não sabem que há outro mundo. pareceram-lhe felizes?

é muito difícil avaliar a felicidade dos outros. muitas vezes não depende do quanto se tem. mas acredito que é muito difícil ser feliz passando fome, como me pareceu acontecer nalguns lugares daquele país. esse aspecto é determinante: o facto de se desconhecer completamente aquilo que é o mundo exterior, ou o facto de se ter uma ideia do mundo exterior que não é a real e que coloca a coreia do norte como o país mais desenvolvido do mundo, que leva as pessoas a crerem-se privilegiadas.

acredita-se mesmo nisso?

penso que sim. não circula qualquer cultura no país, excepto a propagandística, a promover a coreia, os valores da coreia, a obediência e o respeito pelos líderes.

como são vistos os americanos na coreia do norte?

toda a gente acha que os americanos os invejam e que são forças do mal, que são intrinsecamente maus do ponto de vista moral, enquanto os coreanos são intrinsecamente bons e vistos como um povo escolhido. muitas vezes mostram-nos coisas acreditando que nós ficamos impressionados. mas temos que empregar uma certa diplomacia. não podemos questionar aquilo que nos é dito, não podemos discordar quando nos dizem que os líderes são extraordinários, não podemos debater isso.

como foi viver duas semanas assim?

houve duas partes. quando começou a chover, o país, que é bastante cinzento, tornou-se mais cinzento ainda. a primeira parte vivi-a com entusiasmo pela descoberta. a segunda com muito cansaço.

qual o momento de transição?

o aspecto do clima foi importante, coincidiu com uma altura em que estive quatro dias fora da capital que foram muito penosos. fomos para regiões onde não iam estrangeiros. via-se uma pobreza muito grande. estive em países africanos com muita pobreza, na costa do marfim, na índia. mas aquela pobreza é diferente, não é assumida, tenta-se esconder. aguenta-se com grande estoicismo mas há sinais muito duros.

como quais?

no caso das crianças ou dos velhos, a sua grande fragilidade. percebe-se que estão mal alimentados, estão mal vestidos para aguentar as temperaturas nesses lugares a norte onde neva.

impressionou-o mais que a pobreza da índia?

sim, é acompanhada de toda a opressão de um mundo que está fora do mundo, da ignorância do que existe fora dali.

achou que era tudo um teatro?

é frequente quererem impedir-nos de olhar em volta, dizerem-nos: ‘tens que olhar nesta direcção’. houve momentos em que, se fosse aceitável, nos teriam vendado. havia coisas que não queriam que víssemos. a justificação era que não queriam que se visse a pobreza. mas muitas vezes essa pobreza não era assim tão evidente. não se podia fotografar ou filmar em movimento. e mesmo em certos lugares havia restrições. às vezes nem havia nada de muito chocante a acontecer. noutros aspectos assiste-se mesmo à encenação e é até um pouco triste.

por exemplo?

em pyongyang, há a loja n.º 1 e a loja n.º 2. são armazéns com produtos chineses, a maior parte deles impossíveis de encontrar noutros lugares da coreia do norte. não há lá ninguém além dos trabalhadores. e é-nos dito que são lojas normais e que são aquelas as lojas onde as pessoas vão comprar o que precisam. é tão evidente que isso não é verdade que chega a ser deprimente.

conta que viu numa fábrica uma senhora fingir fazer experiências químicas...

é patético. uma mesa, no meio de uma sala, completamente vazia, com uma balança de pesos e uma senhora a misturar um pó branco com água não é o mesmo que estar a fazer experiências.

a viagem pesou-lhe?

tudo era estranho, diferente, específico. uma visita à coreia do norte é muito menos uma visita de fruição dos sentidos do que do intelecto. é uma visita muito intelectual. a natureza é fascinante, mas o que mais individualiza o país é a sociedade.

viaja por gosto ou pela profissão?

na maior parte dos casos tem que ver com a apresentação de livros meus e a participação em festivais literários no estrangeiro. depois de escrever este livro num tão curto espaço de tempo fiquei com vontade de estar mais tempo em casa e escrever mais. mas as viagens, sendo concorrentes com a escrita, também a alimentam.

está a escrever um novo livro?

estou a pensar nisso. as ideias que tenho vindo a desenvolver são para um romance. a escrita já começou há algum tempo, não no papel, mas na cabeça e nos projectos.

e a literatura de viagens, é para continuar?

tenho vontade de fazer mais viagens como esta, igualmente imprevisíveis e que, dependendo das características do lugar, me permitirão outras formas de escrita e outras formas de retratar a própria experiência. mas não quero dizer quais são.

os destinos serão novamente ditaduras?

não sei, ainda não está totalmente definido. mas tenho vontade de que este livro seja o início de uma série, mesmo que sem periodicidade definida. e vai ser.

tem uma legião de fãs no facebook e no instagram. por que lhe interessam tantos as redes sociais?

é uma forma excelente de comunicar. há um grande número de pessoas a seguir o que faço por essa via, alimento muito essas redes. coloco textos, muito material do que faço e dos meus interesses. e descobri a fotografia através do instagram. nunca tive, nem tenho, a intenção de ser fotógrafo. mas neste livro tenho uma fotografia tirada por mim na capa. algo que nunca esperei que acontecesse.

tem milhares de seguidores. é uma forma de chegar a novos leitores?

sim. e coloco lá textos que são publicados em lugares que não têm um acesso muito óbvio, às vezes fora de portugal, textos que publico na imprensa, entrevistas como esta.

rita.s.freire@sol.pt

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